Wilson Luiz Seneme, vilão do título paulista de 2002, se aposenta da arbitragem

4/26/2014 1 Comments

Wilson Luiz Seneme, 44, natural de São Carlos, foi um dos árbitros mais conceituados da história recente da arbitragem brasileira. Sim, o verbo "ser" no passado está correto, uma vez que o juiz anunciou sua aposentadoria hoje em entrevista ao Espn.com.br. Agora, Seneme será um dos integrantes da Comissão de Arbitragem da Conmebol (Confederação Sul-americana de futebol). 

A vida de Seneme nunca foi fácil. Por várias vezes, o árbitro foi criticado por suas atuações em clássicos, especialmente do futebol paulista. Contudo, o juiz fala em dever cumprido: "Saio do gramado com a sensação de dever cumprido. Acho que fiz muito mais jogos positivos que negativos. Erros cometi, com certeza, mas acredito que honestidade nunca faltou. Saio feliz porque tudo o que conquistei e pela referência que me tornei para os árbitros mais jovens", disse ao site da ESPN. 

Além disso, o próprio árbitro numerou os jogos mais importantes da sua carreira, como afirma o Espn.com: "Segundo o próprio Seneme, os jogos mais marcantes que ele apitou foram a semifinal do Campeonato Paulista de 2003, entre Palmeiras e Corinthians, e o último jogo do Brasileirão de 2011, também entre alvinegros e alviverdes. Além deles, a final da Copa Sul-Americana de 2011, vencida pela Universidad de Chile sobre a LDU, também ficará guardada na memória do ex-árbitro", ranqueou. 

Todavia, o árbitro não viveu somente de bons momentos, e a partida mais decepcionante de sua história foi em 2002. Ainda em começo de carreira, Wilson Luiz Seneme apitou um jogo decisivo pelo Campeonato Paulista da Série A-1, entre Ituano e Rio Branco, no Novelli Júnior. Naquele dia, o árbitro foi o vilão daquele que poderia ser o maior título do Tigre da Paulista. 

Abaixo, o site disponibiliza a matéria do Todo Dia de Americana, retratando a revolta dos atletas riobranquenses no dia 28 de abril de 2002:

Todo Dia: "O Rio Branco perdeu para o Ituano por 2 a 1, ontem, no Estádio Novelli Júnior, em Itu, e ficou com chances remotas de disputar o título do Campeonato Paulista. Jogadores e diretores do Rio Branco deixaram o campo reclamando de dois gols anulados pelo árbitro Wilson Luiz Seneme (leia texto abaixo). Os dois gols do Ituano foram marcados por Basílio, ex-Palmeiras.

A equipe de Itu lidera com 34 pontos, seis a mais do que o Rio Branco, agora na sexta posição. Restam apenas três rodadas para o término da competição.

O Tigre começou bem o jogo contra o Ituano. Aos 5min, o zagueiro Paulão escorou cruzamento da direita e o atacante Alberto completou para o gol. O árbitro anulou o gol, marcando um toque de mão do atacante.

Aos 14min, Rafa cruzou para a área e Alberto, de ombro, desperdiçou boa chance. Aos 23min, o meio-campista Igor, de fora da área, tentou o gol, obrigando o goleiro André Luiz a uma grande defesa.

Mas quem abriu o placar foi a equipe da casa. Aos 31min, num lançamento para o ataque, o zagueiro Paulão perdeu uma disputa de cabeça quase no meio-de-campo e a bola sobrou para Basílio, livre. O atacante do Ituano partiu em direção do gol e, na saída do goleiro Gustavo, mandou a bola no canto esquerdo.

O Tigre voltou para o segundo tempo apostando nas jogadas aéreas. Porém, aos 10min o goleiro André Luiz, do Ituano, interceptou um cruzamento de escanteio e lançou o lateral-esquerdo Lúcio. Ele se livrou da marcação de Jorginho, levou a bola até perto da área e cruzou para Basílio fazer 2 a 0, depois de um rebote do goleiro Gustavo.

Aos 25min, aconteceu mais um lance que gerou reclamação dos jogadores do Tigre contra a arbitragem. Igor cruzou da esquerda e Genílson disputou a jogada com o goleiro que, pressionado, não conseguiu fazer a defesa, mandando a bola para dentro do gol. O árbitro marcou falta do atacante sobre o goleiro.

O Rio Branco descontou aos 33min. Marcinho cruzou pela esquerda e Paulão, de cabeça, tocou para gol. 

O goleiro ainda tentou a defesa, mas bola já havia entrado. Na seqüência, Genílson ainda tocou para o fundo das redes. O Ituano ainda teve o meio-campista Izael expulso, mas conseguiu segurar a vitória.

Arbitragem revolta riobranquenses

A arbitragem de Wilson Luiz Seneme foi o assunto principal entre jogadores e diretores do Tigre após o jogo. Inconformado com a atuação do juiz, o responsável pelo futebol do Tigre, Armindo Borelli, disse que enviará quatro fitas da partida à FPF (Federação Paulista de Futebol), contestando a arbitragem. “Ele anulou dois gols legítimos e ainda marcou um impedimento duvidoso que resultaria num outro gol”, disse Borelli.

“Me senti mal com essa arbitragem. E ele não marcou uma falta clara aos 44 minutos (do segundo tempo) próxima à área e por trás. Eu ainda pedi para que mandassem um árbitro bom para esse jogo. Queríamos apenas um juiz que apitasse corretamente”, completou.

Após o jogo, o zagueiro Paulão não poupou críticas ao juiz. “É brincadeira! Jogar contra uma equipe já é difícil, contra um árbitro, então, é complicado. Ele anulou um gol do Alberto legítimo. Depois o Gilmar Lima arrancou e sofreu falta, mas ele (o juiz) marcou contra a gente e ainda deu cartão para o Gilmar. Fomos prejudicado”, reclamou.

O meio-campista Igor foi outro que criticou a arbitragem. “O juiz pode ser punido, ficando sem apitar um ou dois jogos, mas nós perdemos tudo. Fomos punidos com os gols anulados”, disse.

Para o lateral-direito Márcio Rocha, a situação do Tigre na tabela, após a derrota para o Ituano, “ficou complicadíssima”. “Mas enquanto tiver luz, vamos correr atrás”, garantiu." 

A hombridade de um profissional
Wilson Luiz Seneme, arrependido de "tirar um título paulista do Rio Branco", reconheceu seus erros ao repórter Ariel Ferreira, da Azul Celeste, em uma entrevista na cidade de Sorocaba: "Eu tenho noção dos meus erros naquele jogo, sei as consequências e peço desculpas ao torcedor do Rio Branco. Errei e reconheço. Assim como acerto muito. Tanto que cheguei ao quadro da FIFA", afirmou o árbitro. 

Para o jornalista e narrador Roger Willians, esse foi um momento emocionante da história da imprensa esportiva americanense: "Foi emocionante. Ele era meio iniciante na época, mas anos depois, na Azul, ele reconheceu o erro. Disse que era humano e pediu desculpas ao torcedor. Um momento ímpar. Mas, lamentavelmente, ele tirou o nosso maior título". 

"Ele não dava desculpas. Ele era novo. Precisava de espaço, portanto, não reconhecia os erros. Ele interpretava que era daquele jeito e boa. Mas o tempo o fez reconhecer. Acho que isso foi histórico. Pelo menos para mim que sou riobranquense", completou RW. 

O narrador afirma sem medo de estar equivocado: "Deu-me noção maior que, de fato, somos os campeões morais de 2002 do Paulistão". 

O último jogo
A última partida de Wilson Luiz Seneme como árbitro aconteceu ontem (23), às 16h, no Mangueirão, em Belém. O juiz apitou o decisivo clássico "Re-Pa", entre Remo e Paysandu, um dos mais importantes do futebol brasileiro. A partida terminou empatada em 1 a 1, mas, pela melhor campanha no Campeonato Paraense, o Remo sagrou-se campeão do primeiro turno.  

Seneme foi árbitro por 17 anos, sendo sua estreia no Campeonato Paulista em 2000. No ano seguinte, o juiz começou a empunhar o apito nos gramados do futebol brasileiro. Em 2006, ele passou a integrar o quadro de árbitros da FIFA. 

Por Gabriel Pitor Oliveira, da redação

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