Rio Branco e Atlético Mineiro se enfrentam em 1990

Por Gabriel Pitor Oliveira


Amanhã (31), o Rio Branco entra em campo contra o União Barbarense, às 16h, no Antônio Lins Ribeiro Guimarães, pelo jogo de volta das quartas de final da Copa Paulista 2015. E o Tigre precisa de "um milagre atleticano" para se classificar à semifinal, uma vez que perdeu o jogo de ida por 2 a 0 no DV. Qualquer resultado de três gols de diferença favorece o Rio Branco, enquanto o empate no placar agregado favorece o União. 

Pensando nesse "milagre atleticano" que resolvemos resgatar o jogo entre Rio Branco e Atlético Mineiro, em 7 de julho de 1990. A partida aconteceu no mesmo palco do jogo de amanhã e reuniu dois times com laços históricos, quase irmãos. 

O Tigre da Paulista vivia aquele que seria um ano mágico e inesquecível. O super esquadrão comandado por Afrânio Riul conquistou, em 1 de dezembro, o acesso à elite do futebol paulista, onde o alvinegro americanense permaneceu por 17 anos consecutivos. E é interessante salientar os números daquele fantástico Rio Branco: foram 49 jogos - a começar no dia 14 de fevereiro em um amistoso contra o Independente de Limeira -, sendo 27 vitórias, 14 empates e oito derrotas; 70 gols feitos e 31 gols sofridos.

Para o confronto contra o Galo, o Rio Branco vinha de uma invencibilidade de 14 jogos. 108 dias sem saber o que era derrota. A última tinha acontecido em 21 de março contra o Taubaté por 1 a 0, no Vale do Paraíba. 

Por outro lado, o Atlético, um mês antes, tinha perdido o título do Campeonato Mineiro para seu arquirrival, Cruzeiro, por 1 a 0, gol de Careca. Depois disso, o Galo só enfrentou o Vila Nova/GO pela Copa do Brasil, do qual passou facilmente com um 5 a 0 no placar agregado. O prélio contra o Rio Branco era o principal de uma sequência de amistosos até as oitavas de final da Copa do Brasil contra o Rio Negro/AM. 

Além disso, o calendário do futebol brasileiro estava praticamente parado devido a Copa do Mundo de 1990, na Itália. Por isso, os times nacionais marcavam amistosos tanto em preparação ao Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil, caso do Atlético Mineiro, quanto para não perder o ritmo de jogo, caso do Rio Branco que disputava a Divisão Intermediária. 

A bola fora do Consórcio Piracicaba
A partida, apesar de também ter sido combinada entre os dois clubes, teve o intermédio de uma empresa: o Consórcio Piracicaba. O organizador do confronto ofereceu Cr$150 mil ao Tigre da Paulista para aceitar o amistoso. Obviamente, o Rio Branco, que já tinha organizado amistosos "gratuitamente" contra Palmeiras e XV de Piracicaba, acatou a proposta. O Atlético Mineiro teve todas as suas despesas pagas pelo Consórcio.

Mas a empresa pisou na bola quando anunciou que o jogo aconteceria no estádio Antônio Lins Ribeiro Guimarães. O torcedor riobranquense não gostou nada da ideia de ter que ir ao estádio rival e fora de sua cidade para enfrentar o Galão da Massa. Até porque, o Décio Vitta estava em perfeitas condições e tinha capacidade (mais que) necessária para receber o embate.

E a massa riobranquense já estava ambientada com o time. Contra Palmeiras e XV de Piracicaba, excelentes públicos prestigiaram o alvinegro. Na Divisão Intermediária, não era diferente, uma vez que os menores públicos marcavam, em média, 4 mil pagantes. Contra o Independente de Limeira, no dia 3 de junho de 1990 - último jogo antes da sequência de amistosos contra Palmeiras, XV e Atlético -, por exemplo, 11.530 alvinegros estiveram presentes no Décio Vitta.

Para a torcida atleticana, nenhum atrativo. O time estava longe de sua verdadeira casa e no estado de São Paulo não há muitos torcedores do Galo. Certamente, se este jogo acontecesse em território mineiro, a torcida do Atlético marcaria presença.

Resumindo: virou mando de ninguém e um jogo de interesse apenas histórico, porque era o encontro de dois clubes "quase irmãos".

Chuva adia o jogo
Inicialmente, a partida estava marcada para o dia 6 de julho, mas caiu um verdadeiro "toró" na região fazendo com que o gramado do estádio Antônio Guimarães virasse uma piscina. Dessa forma, o embate foi adiado para o dia 7.


Tigre desfalcado lança jogador e Galo com força máxima
Enfim, pré-jogo! Mas o técnico Afrânio Riul tinha dores de cabeça para escalar o seu time: Marquinhos Sartore, goleiro, pediu para ser poupado; Claudir, zagueiro, estava contundido; Miel, volante, estava fora por conta de dores na panturrilha; Silva, atacante, estava contundido no tornozelo; Henrique, atacante, foi poupado por grande desgaste físico; Waguinho (Dias, hoje técnico do União Barbarense), meia, foi poupado pois vinha de sessões de fisioterapia.

Com Henrique e Silva descartados, Riul precisou lançar um novo jogador: Claudinho, de apenas 16 anos. O atleta, revelado na base do Rio Branco, já treinava com o time profissional, ou seja, estava liberado para ser uma aposta no grande confronto. "O Claudinho é bastante jovem, mas já vem treinando há algum tempo com os profissionais e demonstrando competência. Por isso, são grandes as chances de ele ser lançado contra o Atlético", disse o treinador do Tigre ao O Liberal de 6 de julho de 1990.

Claudinho foi o principal jogador das bases do Rio Branco no fim da década de 80 e começo de 90. Tinha um faro de gol inigualável. Além de realmente saber fazer gol, o centroavante era rápido, ligeiro. Combinação perfeita para infernizar a vida do Atlético Mineiro.

Aliás, o Galo não poupou atletas e foi com força máxima para o confronto. Era o principal amistoso preparatório para o jogo contra o Rio Negro, pela Copa do Brasil. Veja o que conta o jornal O Liberal de 6 de julho de 1990: "A delegação do Atlético Mineiro deixou Belo Horizonte ontem às 16 horas e desembarcou no Aeroporto de Cumbica, em São Paulo, por volta das 17h45. No entanto, os mineiros só chegaram em Piracicaba, onde estão concentrados, às 22 horas. O supervisor Mussula (Luiz de Matos Luchesi), em contato telefônico com O Liberal, garantiu que o técnico Artur Bernardes poderá contar com todos os titulares, inclusive o ponta esquerda Eder. "A escalação é feita pelo treinador, mas posso assegurar que a equipe que está disputando a Copa do Brasil virá para o amistoso", disse Mussula."

Sem desfalques, o técnico Artur Bernardes não pensou duas vezes e escalou o time titular que tinha batido o Vila Nova pelas 16 avos da Copa do Brasil.

O jogo
O técnico Afrânio Riul fez uma mudança ousada e surpreendente: Bugre, originalmente atacante, foi para meio de campo, e Cido (e não mais Claudinho) foi colocado no ataque pela ponta-direita. Estava desfeito o tridente de ouro do primeiro Tigre do Brasil: Bugre, o craque Macedo e Adílson. Parecia maluquice - e realmente era -, mas diante dos desfalques e das dificuldades, o técnico riobranquense precisou fazer essa improvisação. Aliás, a mudança se tornava menos absurda quando Bugre tinha qualidade técnica de sobra para atuar no meio de campo.

No Atlético Mineiro, nenhuma surpresa. O time titular de Artur Bernardes estava escalado, inclusive com Eder Aleixo na ponta-esquerda. Gerson, eterno artilheiro atleticano - foram 92 gols em 148 jogos -, era o centravante.

O primeiro tempo foi bastante movimentado. Digno de um embate entre Rio Branco e Atlético Mineiro, ou seja, entre um grande interiorano e um grande/gigante do futebol brasileiro. As duas equipes ousaram e buscaram o gol a todo momento. Éder Aleixo era o trunfo do Galo, enquanto Macedo e Bugre eram peças chaves do esquema do Tigre.

Aos 40 segundos de partida, na primeira trama ofensiva de um dos times, Bugre chutou da entrada da área, Maurício falhou e a bola morreu no fundo das redes. 1 a 0 Rio Branco.

O Atlético Mineiro achou que o Rio Branco iria recuar, mas os comandados de Afrânio Riul seguiram no ataque e, surpreendentemente, o tridente ofensivo riobranquense dava muito trabalho a defesa do Galo. Deu certo a mudança de Riul, pois Bugre estava fazendo um grande papel no meio de campo ao lado de Pianelli.

Porém, aos 36 minutos, em um contra-ataque puxado por Aílton e tabela com Gerson, o centroavante do Atlético Mineiro empatou: 1 a 1.

O segundo tempo foi mais pegado no meio de campo, já que o Galo tinha dificuldades para frear o ímpeto dos atacantes do Rio Branco. As melhores jogadas do time mineiro partiam da individualidade de Eder Aleixo ou Marquinhos.

Sem mais tentos, a partida terminou no empate: 1 a 1. Segundo o jornal O Liberal de 8 de julho de 1990: "O placar final (1 a 1) refletiu o equilíbrio de forças entre as equipes, apesar de que o Rio Branco teve maior volume de jogo e chegou a criar mais chances para vencer."

Estava encerrada a batalha dos quase irmãos. E o Tigre da Paulista provou o seu valor, mesmo sendo teoricamente um time mais modesto que o Galão da Massa.


Ficha técnica: Rio Branco 1x1 Atlético Mineiro
Jogo: Rio Branco Esporte Clube 1x1 Clube Atlético Mineiro
Local: Estádio Antônio Lins Ribeiro Guimarães - 10h
Gols: Bugre - 1x0 Rio Branco; Gerson - 1x1
1º tempo: Rio Branco 1x1 Atlético Mineiro
Final de jogo: Rio Branco 1x1 Atlético Mineiro
Renda: Cr$60.600,00
Público: 369 pessoas (menor público do ano)
Árbitro: José Aparecido de Oliveira
Auxiliares: Manoel Gil Gomes e Thompson Mário Galvão
RIO BRANCO (4-3-3): Carlos; Jorge Luis (Bira), Aílton Luis, Edson Fumaça e Gilson; Pedro Paulo, Bugre e Pianelli; Cido, Macedo (Claudinho) e Adilson (Mirandinha). Técnico: Afrânio Riul.
ATLÉTICO MINEIRO (4-3-3): Maurício; Carlão (Riuler), Cléber, Toninho Carlos (Paulo Sérgio) e Paulo Roberto; Moacir, Aílton e Marquinhos (Wallace); Nilton (Tato), Gerson e Éder Aleixo (Mauricinho). Técnico: Artur Bernardes. 

DETALHES
- Perceba o quão ofensivo estava o Rio Branco: Bugre, Pianelli, Cido, Macedo e Adilson. Pianelli era o clássico camisa 10 do Tigre. Bugre era um atacante improvisado no meio de campo, ou seja, meia-ofensivo. E, por fim, três atacantes: Cido, Macedo e Adilson. 
- Time pequeno? Pianelli foi um dos melhores meias do futebol paulista na década de 80. Ex-XV de Piracicaba e São Paulo. Macedo foi revelado no Rio Branco, mas viria ser um craque do São Paulo e da Seleção Brasileira. Bugre era apontado como promessa da década de 80 no Morumbi.
- Para provar a titularidade do adversário pegamos uma escalação do Centro Atleticano de Memória entre Atlético Mineiro e Atlético de Madrid: Rômulo; Carlão, Cléber, Toninho Carlos (Tobias) e Paulo Roberto; Éder Lopes, Marquinhos e Tato (Mauricinho); Gilberto Costa, Gerson e Éder Aleixo.
- O público pífio do amistoso - e aí está a bola fora do Consórcio Piracicaba - acarretou em prejuízos à empresa organizadora. 

"Quase irmãos"
Mas afinal, por que quase irmãos? Obviamente não podemos dizer que são irmãos porque não foram fundados pela mesma pessoa. Mas o Rio Branco carrega várias características que são inspiradas do Atlético Mineiro, como um "irmão adotivo".

Vamos lá!

A primeira característica é tradicional camisa listrada. A camisa listrada do Rio Branco nasceu de inspiração do Atlético Mineiro. Aliás, em 2010, o hoje vice-prefeito de Americana, Roger Willians, e que antes possuía um site esportivo, fez uma matéria com título de "Ela vai voltar...", contando toda a história da camisa listrada. Nela, Totó Bressan, ex-dirigente do Tigre, declara que deveria ser proibido o Rio Branco não utilizar camisas listradas.

Mas como o Rio Branco se inspirou no Atlético Mineiro sendo que não estava no mesmo estado mineiro e se o Galo ainda não tinha tamanha relevância nacional? Aliás, até pela força do estado de São Paulo e a irrelevância do futebol mineiro na década de 20, o Tigre, com os vices-estaduais de 1922 e 1923 (Taça Competência), tinha mais relevância que o Atlético.

O Atlético Mineiro, apesar de quase não ter saído do estado nas primeiras décadas, disputou alguns amistosos e torneios amistosos no estado de São Paulo contra os times da capital na década de 10 e 20. Tudo isso era divulgado na Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, que apesar de ser uma época com comunicação remota, os jornais já chegavam no interior paulista, especialmente nos grandes centros (como Campinas, cidade a qual Americana pertencia). Os jornais possuíam poucos registros fotográficos - na verdade, eram mais fotos dos jogadores como "santinhos" -, mas era completamente possível identificar a camisa que os jogadores vestiam. Sem contar, claro, dos registros fotográficos da época, ainda em preto e branco e em pequena resolução.

Vale lembrar também que antes do Rio Branco utilizar as camisas listradas, o alvinegro usava camisa branca lisa e calção e meia pretas, isso de 1913-1917 e 1919-1920.

Perceba como as camisas se assemelham:

Foto: Manoel Higino
Atlético da década de 20. Foto: ADEMG
O trio maldito atleticano - Década de 20
Foto: Jairo Said
Rio Branco de 1932
Foto: Fernando Guerra
Rio Branco vice-estadual de 1922
Foto restaurada por Henrique Silveira
Equipe juvenil do Tigre de 1938
Foto: Fernando Guerra

Depois das camisas vem o escudo do Tigre no fim da década de 50 e começo de 60 - que, aliás, inspiraria o atual escudo. O Rio Branco fez um escudo igualzinho ao do Atlético Mineiro da década de 50 e começo de 60. 

CAM e RBFC da década de 50 e começo de 60
Almanaque da FPF de 2007
Alguns conhecem o escudo da década de 50/60 dessa forma.
São apenas variações gráficas, os dois modelos estão corretos,
apesar do mostrado anterior ser o mais aceitável.
Este escudo da década de 60, viria a inspirar o atual:


A terceira é o estádio da Rua Fernando de Camargo que segundo o colunista mais maluco da história de Americana, Honorato, foi inspirado no estádio de Lourdes, do Atlético Mineiro. Porém, é bom alertar aos riobranquenses: é mais fé do que verdade. Honorato costumava escrever algumas maluquices como o Rio Branco fundado em 1912, sendo que há atas comprovando que nasceu em 4 de agosto de 1913. Enfim, até onde essa informação é verdade ninguém sabe, mas uma rápida busca pela internet pode-se achar fotos dos dois estádios que possuem alguns poucos traços semelhantes.

Está aí alguns laços históricos entre Rio Branco e Atlético Mineiro. Vale ressaltar que vários jogadores do Tigre foram negociados com o Galo em toda a história e o time mineiro sempre teve privilégios nas negociações, o que caracteriza uma certa empatia entre a diretoria dos dois clubes. 

E esperamos que futuramente eles voltem a se enfrentar, mas dessa vez não por amistoso e sim por campeonatos importantes do nosso futebol, algo que já passou perto de acontecer. Aliás, depois de 1990, Tigre e Galo se encontraram pela última rodada da primeira fase da Copa São Paulo de Juniores de 2009, Na ocasião, os dois alvinegros brigaram pela liderança do grupo e a classificação à segunda fase. Deu Rio Branco, na época atual vice-campeão da competição, 3 a 0. 

Ah! E claro, além de agradecer pela honra de jogar com o nosso "quase irmão", nunca é tarde para fazer um pedido: Galo, nos empresta umas horinhas do seu milagre, faz favô! Nóis tamo acreditando na virada!

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Em 1971, o misterioso Tigre enfrentou o Dragão no Victório Scuro

Por Gabriel Pitor Oliveira
A cidade de Americana parou em 14 de novembro de 1971 para acompanhar um dos cotejos mais inusitados da história do futebol da Princesa Tecelã. No lendário - e ainda vivo - estádio Victório Scuro, o Esporte Clube Vasco da Gama, conhecido como Vasquinho da Conserva, enfrentou o Rio Branco Esporte Clube, o Tigre da Paulista. Era a história acontecendo e desenhando um dos fatos mais inusitados de todos os tempos. Porém, antes de contar todos os mistérios acerca desse grande jogo, é preciso apresentar os times.

Vasco e Rio Branco até 1971


Esporte Clube Vasco da Gama

Fundação: 07/02/1958
Presidente: Amasilio Scoriza
Alcunhas:
Vasquinho 
Vasquinho da Conserva
Dragão da Conserva
Cruzmaltino Americanense
Estádio: Victório Scuro ("Caldeirão do Dragão")
Torcedor: cruzmaltino ou vascaíno
Mascote: Dragão
Rivais: Flamengo de Americana, União Barbarense e Pirassununguense
Situação: Disputava a Primeira Divisão (equivalente a segunda divisão paulista) e torneios complementares no segundo semestre, como o Torneio da Primavera 1971.
Principais títulos e feitos notáveis:
- Campeão da Segunda Divisão (equivalente a terceira divisão paulista) de 1968.
- Bi-campeão da Taça Amadeu Elias.
Rio Branco Esporte Clube

Fundação: 04/08/1913
Presidente: Délcio Dollo
Alcunhas: 
Tigre
Tigre da Zona
Tigre da Paulista
Tigre de Americana
Alvinegro Americanense
Alvinegro Imponente
O Campeão do Centenário
Estádio: na época, nenhum (futuramente Décio Vitta)
Torcedor: riobranquense
Mascote: Tigre
Rivais: União Barbarense, XV de Piracicaba, Guarani, Ponte Preta, Inter de Limeira e Carioba.
Situação: Departamento de futebol desativado (impasse).
Principais títulos e feitos notáveis:
- Bi-campeão Paulista do Interior em 1922 e 1923.
- Campeão do Centenário da Independência do Brasil 1922.
- Vice-campeão Paulista (Taça Competência) em 1922 e 1923.
- Tri-campeão da Zona Paulista em 1921, 1922 e 1923.
- Vice-campeão do Interior em 1921.
- Principal fundador da "Lei do Acesso" e dos campeonatos de base.



A batalha no Victório Scuro
Vasco da Gama e Rio Branco acertaram um amistoso para o dia 14 de novembro de 1971 no estádio Victório Scuro, conhecido como "Caldeirão do Dragão". O confronto pegou de surpresa a todos da imprensa americanense, uma vez que o Tigre da Paulista estava com o seu departamento de futebol desativado. O cruzmaltino americanense havia terminado de disputar, sete dias antes, o Torneio Quadrangular da Primavera composto por Vasco, Pinhalense, Pirassununguense e Mogi Mirim. Lanterna da competição com apresentações horrorosas, o Dragão da Conserva pretendia desistir de disputar novos amistosos. 

Soou estranho quando a diretoria vascaína anunciou o amistoso, especialmente pelo fato do adversário ser o Rio Branco, clube que não apresentava seu futebol pelos gramados do interior paulista desde 1959, ou seja, 12 anos atrás. Com a "volta" do Tigre vários burburinhos começaram a correr na Princesa Tecelã e muitos acreditavam que o alvinegro retornaria ao futebol profissional - o que para o Vasco seria uma ameaça -. Nada disso. Foi um jogo esporádico. Algo momentâneo apenas para a torcida americanense apreciar e matar saudades do Rio Branco, clube que deu as maiores glórias para a cidade. 

Porém, ainda há muitos mistérios acerca desse jogo e apresentaremos mais abaixo. Afinal, era intensão mesmo do Tigre voltar ao futebol? O time que jogou veio da onde? Quem levou a camisa riobranquense? Como o Vasco encarou esse amistoso? Perguntas sem repostas até hoje e que serão entendidas no decorrer da matéria. 

Além de todas essas dúvidas e do jogo soar estranho, hoje o grande confronto soa como alternativo e inusitado. O Rio Branco enfrentou um time que, entre aspas, viria a ser ele. Vale lembrar: o Vasco foi fundado em 1958, mas em 8 de fevereiro de 1976, em assembléia realizada na sede vascaína, mudou-se de nome para Americana Esporte Clube. O mesmo Americana que, em 1979, faria uma fusão não-incorporada com o Rio Branco, trazendo o Tigre da Paulista de volta ao futebol. Entendeu? O Vasco enfrentou o Rio Branco em 1971, o mesmo time que o mesmo Vasco ajudaria a voltar ao futebol em 1979. Mais que inusitado, é história! 

Agora, vamos falar do grande prélio. Em campo, o verdadeiro "dérbi" de dois times gloriosos: o Vasco da Gama, na década de 60 e 70, levou o nome de Americana no cenário estadual com boas campanhas, título e se tornando o primeiro time da cidade (na época); quem perdeu esse posto foi justamente o Rio Branco que estava com o seu futebol desativado, mas que levou - e muito bem - o nome da Princesa Tecelã no futebol estadual e, até mesmo, nacional de 1913 a 1959. O alvinegro entrava em campo gabaritado com o bi-campeonato do interior, com os dois vices estaduais e com o "Campeão do Centenário" (alusivo ao Centenário da Independência do Brasil em 1922). Era o melhor time de Americana de todos os tempos e um dos maiores times do interior brasileiro - até hoje -, o Rio Branco, contra o melhor time da cidade em duas décadas, o Vasco.

Vale aqui fazer uma observação: o Rio Branco, sem qualquer sombra de dúvidas, é o maior time da cidade desde 1913; o Vasco, certamente, é o segundo maior. Há muita contestação quanto a posição do Dragão da Conserva no patamar americanense, já que Carioba e Flamengo "reivindicam esse segundo posto". O Cacique do Machadinho (Flamengo), com todo respeito, jamais chegou aos pés e nem mesmo tem as conquistas do Vasco. O Carioba, apesar de ser bem mais velho que o cruzmaltino, nunca passou de glórias municipais. O Vasco da Gama se credenciou a segundo time histórico da cidade quando entrou no profissionalismo, enfrentou com astúcia tradicionais times interioranos e, por fim, se sagrou campeão da terceira divisão estadual em 1968. 

O pré-jogo do jornal O Liberal do dia 13 de novembro de 1971 fala da grande expectativa para o cotejo no Victório Scuro. 

O Liberal de 13 de novembro de 1971 | Tigre ou Dragão? Resposta amanhã
em Victório Scuro

Transcrição da matéria
"Depois de tanto tempo voltamos a noticiar partidas do Rio Branco Esporte Clube, agremiação que chegou a conquistar títulos no interior do Estado em épocas passadas, culminando por ser proclamado "campeão do centenário".
Quanto ao noticiário do Vasco da Gama não é novidade para ninguém, pois de uns tempos a esta data é o Dragão que vem representando o futebol profissional da Princesa Tecelã, conquistando também um título notável qual seja, campeão da segunda divisão de profissionais da Federação Paulista de Futebol, em memoráveis campanhas desenvolvidas em campos de Bauru e Araraquara. 
Claro que estamos comentando o que será a partida programada para a tarde de amanhã no estádio Victório Scuro, quando estarão frente a frente as equipes do Rio Branco e do Vasco. 
O Dragão é sobejamente conhecido da platéia americanense, mas o Tigre é uma incógnita, pois essa será sua primeira apresentação com mais pompa perante a torcida local.
Um troféu foi colocado em jôgo, mas a equipe que pretender ficar com êle em definitivo precisará vencê-lo numa disputa de melhor de três pontos. A primeira partida será jogada amanhã; a segunda peleja está marcada para o dia 13 de junho do próximo ano, e, havendo necessidade de uma terceira porfia esta acontecerá no aniversário de nossa cidade, em novembro. 
Muito mais pela expectativa reinante, pela tradição das esquadras litigantes, que pela qualidade técnica do espetáculo, espera-se a presença de um grande público para prestigiar tal acontecimento. 

Ado e Paulo Borges participam da festa
Na partida preliminar estarão jogando as equipes juvenis do São Domingos, campeão da cidade, e do São Vito, ocasião em que os comandados de Orlando Cremasco receberão as faixas de campeões.
Comandará essa festa o arqueiro Ado, pertencente ao Esporte Clube Corinthians Paulista. Também Paulo Borges deverá estar presente e possivelmente jogando por uma das esquadras de fundo."

Às 12h do dia 14 de novembro de 1971 os portões do estádio Victório Scuro foram abertos. Os primeiros torcedores começaram a chegar para acompanhar a preliminar e o grande cotejo entre Rio Branco e Vasco. 

Às 12h30, iniciou-se o jogo entre as equipes juvenis do São Domingos e do São Vito. 

Às 14h30, após o encerramento do jogo preliminar, a agremiação juvenil do São Domingos recebeu as faixas de campeão da cidade. Fotos foram tiradas para registrar o momento. 

Às 15h10, o onze riobranquense pisou no gramado do Caldeirão do Dragão. Muitos torcedores riobranquenses acompanhavam a partida e entraram êxtase quando o Tigre adentrou ao gramado. Um dos rojões acabou por atingir um torcedor que teve ferimentos leves. A torcida alvinegra foi reforçada pela Escola de Samba Tropicália e Salvação, o que deixou a torcida vascaína admirada pelo barulho dos riobranquenses. Havia mascotes, bandeiras alvinegras e muitos diretores do Rio Branco. Uma das bandeiras estava localizada no meio da Escola de Samba e carregava o brasão de Campeão do Centenário da Independência do Brasil. 

Às 15h18, o onze cruzmaltino entrou em campo diante de aplausos e gritos da torcida vascaína. A platéia do Vasco da Gama, mesmo em igual ou menor número que os riobranquenses, fez sua festa com os gritos de "Vascooo, Vascooo...". 

Às 15h25, após todos os preparativos, o veterano Virgílio Braga, um dos craques que foi bi-campeão do interior e bi-vice-paulista pelo Rio Branco, foi homenageado, dando o pontapé inicial e recebendo o cumprimento de toda a platéia presente no Victório Scuro.

Às 15h30 do dia 14 de novembro de 1971 rolou a bola no Victório Scuro. Tigre e Dragão iniciavam 90 minutos históricos para o futebol americanense. 

O Rio Branco não apresentou bom futebol e sucumbiu diante do Vasco da Gama. A esquadra alvinegra mostrava-se bem abaixo da esquadra cruzmaltina, demonstrando que o onze do Tigre não estava a altura de suas tradições - algo já esperado -. Ainda no primeiro tempo, o Vasco marcou dois gols: Sérgio Morais e Sérgio Rosa anotaram os tentos. 

No segundo tempo, o futebol caiu de nível até mesmo para o lado do Vasco. O Rio Branco, com um time fraco, não teve poder de reação. Coube, então, ao Dragão da Conserva conquistar vitória por 2 a 0 em um jogo que não agradou a platéia presente, apesar de ter sido histórico. 

Abaixo o relato do jornal O Liberal de 18 de novembro de 1971. 

Vasco da Gama 2x0 Rio Branco | Volta do Tigre não assustou Dragão

Transcrição da matéria
"Domingo passado teve futebol em Victório Scuro, com a tão esperada volta do Tigre da Paulista aos campos de futebol. Foi o jôgo Vasco x Rio Branco. A torcida riobranquense compareceu em número regular, levando para o estádio uma bateria e muitos rojões. Os vascaínos estiveram presentes para ver seu time enfrentar os riobranquenses.
Quando o Tigre entrou em campo, sua torcida comemorou ruidosamente. Um dos rojões acabou por atingir inclusive um torcedor que, felizmente, teve pequenas escoriações. Havia mascotes, bandeira, e muitos dirigentes alvi-negros. 
Antes do início da partida o veterano Vergílio Braga foi homenageado, dando o pontapé inicial. Depois veio o jôgo, com a saída pertencendo ao Vasco, através de Bonitão. 
O jôgo em si não chegou a agradar a platéia presente, pois o Rio Branco, embora conte com grande prestígio, afinal é o clube de tradição e muitas glórias já deu a nossa cidade em outras datas, não esteve representado por uma equipe a altura de seu nome. A propaganda foi maior que o produto.
O Vasco por seu turno, acabou se portando melhor sem, contudo, apresentar-se maravilhosamente. Jogou o suficiente para, no primeiro tempo, marcar dois gols, e acabar ganhando a partida pela contagem de 2x0. 
Sérgio Morais e Sérgio Rosa fizeram os gols. 
O juiz da contenda foi Carlos Batista Barbosa, auxiliado por Sidnei Sasse e Paulo Camargo Neves. 
A arrecadação foi Cr$2.000,00, sendo que coube ao Rio Branco 30%."

Boletim do Rio Branco de 1971 fala sobre o jogo, mas comete alguns equívocos como a data
do confronto. Torcida do Tigre em destaque. | Acervo Claudio Giória

O onze alvinegro e o onze cruzmaltino | Boletim do Rio Branco 1971
Acervo Claudio Giória

A torcida que acompanhou o histórico jogo em Victório Scuro | Boletim Rio Branco 1971
Acervo Claudio Giória

Ficha técnica de Vasco 2x0 Rio Branco
Jogo: Esporte Clube Vasco da Gama 2x0 Rio Branco Esporte Clube
Local: Estádio Victório Scuro - 15h30
Gols: Sérgio Morais - 1x0 Vasco; Sérgio Rocha - 2x0 Vasco
1º tempo: Vasco 2x0 Rio Branco
Final de jogo: Vasco 2x0 Rio Branco
Renda: Cr$2.000,00 (Cr$600 foram destinados ao Rio Branco)
Público: Aproximadamente 800 pagantes e menores
Árbitro: Carlos Batista Barbosa
Auxiliares: Sidnei Sasse e Paulo Camargo Neves
VASCO DA GAMA (4-2-4): Carlinhos; Serginho, Adalberto, Cido e Pedrinho; Sérgio Morais e Dião; Hélio, Guaçu, Sérgio Rosa e Du.
RIO BRANCO (4-3-3): Nenê; Zé Carlos (Luizinho), Wagner (Coutinho), Menegatte e Zé Antônio; Mora, Migo (Kiko) e Luizinho (Wiltinho); Sidnei (Zapia), Zili e Caldeira.

O onze riobranquense - Mistério!
Mas afinal, se o Rio Branco estava com seu departamento de futebol desativado da onde surgiu o elenco alvinegro? Este é o grande mistério acerca do jogo. Não porque não é conhecido a origem dos atletas, mas sim, a curiosa origem dos jogadores. 

O Tigre da Paulista foi representado, no jogo contra o Vasco, pelo Cultura Fantasma, um time amador de Americana e que disputava campeonatos regionais e estaduais. E qual é o mistério nisso? A origem do Cultura Fantasma. 

Em um dos boletins do clube, diz o seguinte: 

Arquivo Claudio Giória

Transcrição do trecho
"FUTEBOL DE CAMPO: - O FANTASMA ERA UM "TIGRE" INVICTO. 
Fantasma foi de "grupo" para não assustar os mais sensíveis, pois falar que era RIO BRANCO já de "cara" poderia estragar a "saúde" de muita gente. Com o tempo todo mundo ficou sabendo que o FANTASMA que "assombrava" a cidade com 28 partidas invictas era o RIO BRANCO E.C., um esquadrão de futebol arte e malícia. Desde o retorno ao futebol até a presidente data não sabemos o que é perder e do jeito que a coisa vai, será difícil acontecer tão já. Futebol sempre foi o nosso forte e quando jogamos a turma respeita a tradição do clube mais querido da cidade"

Com esse trecho podemos destacar algumas partes curiosas como "Fantasma foi de "grupo" para não assustar os mais sensíveis, pois falar que era RIO BRANCO já de "cara" poderia estragar a "saúde" de muita gente" e "Com o tempo todo mundo ficou sabendo que o FANTASMA que "assombrava" a cidade com 28 partidas invictas era o RIO BRANCO E.C". Com esses trechos, supostamente, o Cultura Fantasma era o Rio Branco com outro nome. Essa teoria é reafirmada quando o boletim diz que "desde o retorno ao futebol até a presente data não sabemos o que é perder...". O Rio Branco voltou ao futebol como Cultura Fantasma e ninguém desconfiava. 

Se isso realmente fosse confirmado, cairia por terra o conhecimento histórico de anos que o Tigre parou o seu futebol em 1959 e voltou somente em 1979 em uma fusão não-incorporada com o Americana Esporte Clube (ex-Vasco da Gama). 

Outro boletim do Rio Branco reafirma a tese acima:

Arquivo Claudio Giória

Transcrição do 1º e do 4º trechos:
"A reeleição da chapa "O Tigre Voltará", quer dizer a continuidade das promoções do triênio que passou, como também, da construção do nosso futuro estádio poli-esportivo"

"A equipe que jogava com o nome de Cultura Fantasma, era o esquadrão em testes, do Rio Branco E.C., e passou muito bem por eles, pois já soma 28 partidas invictas. 
Nestas condições, desapareceu o "Fantasma" e ressurgiu o novo Rio Branco em nossos gramados."

Primeiro vem uma chapa de eleição com o nome "O Tigre Voltará", certamente se referindo ao futebol e à futura construção do estádio Riobrancão. Depois, mais um indício: "o Cultura Fantasma, era o esquadrão em testes, do Rio Branco E.C." Segundo o boletim, o time era do Tigre da Paulista. 

Segundo o historiador Claudio Giória, o Cultura Fantasma era formado por sócios do Rio Branco o que reforça (ou o contrário) a tese de que o time era o Tigre "mascarado" pelo interior. 

Arquivo Claudio Giória

Por fim, mais um fato que aumenta o mistério: se o departamento de futebol estava desativado, por que ainda era noticiado nos boletins do Rio Branco (como mostrado acima)? Acima fala-se do Cultura Fantasma e suas pequenas glórias. 

O Liberal de 7 de dezembro de 1979
O jornal O Liberal, em 7 de dezembro de 1979, faz uma matéria especial sobre a década de 70 do esporte americanense, destacando os principais acontecimentos. Dentre eles, em 1971, está destacado o grande confronto entre Rio Branco e Vasco. Nele, um trecho diz que o jogo foi "numa tentativa esporádica de volta do Tigre ao futebol através da formação de uma equipe amadora". Aumentou-se as suspeitas acerca do departamento de futebol riobranquense. Porém, o historiador Claudio Giória atenta: "Isso é um indicativo ruim. Pelo seguinte. A história contada anos depois, infelizmente, muda. E isso não apenas antigamente, mas hoje. Quantas besteiras sobre o Rio Branco, por exemplo, não foram perpetuadas pelos jornais ao longo de décadas."

O jogo contra o Vasco puxou várias perguntas: o Rio Branco pretendia voltar ao futebol caso vencesse o Vasco? Cultura Fantasma era o Rio Branco com outro nome disputando campeonatos amadores pelo estado? Ou o Cultura era apenas um time jogando, emprestadamente, com a camisa do Tigre? Questões que o boletim do alvinegro diz uma coisa, mas a prática diz outra. É o eterno mistério acerca desse jogo e do departamento de futebol do Rio Branco supostamente desativado na década de 70. Respostas que não serão respondidas tão cedo. 

O que os historiadores dizem sobre o "Cultura Fantasma" e os boletins do Rio Branco
Claudio Giória é historiador do Rio Branco Esporte Clube e tem um material quase pronto que revela toda a história do Tigre desde 1913. Gabriel Pitor é historiador do Rio Branco, do EC Vasco da Gama e do Americana EC, e já publicou o "Acervo de Jogos" (com todos os jogos no profissionalismo) e o "Acervo Histórico" do alvinegro americanense. 

Foram algumas semanas em que os dois historiadores trocaram e-mails discutindo a origem do Cultura Fantasma e ambos levantaram duas teses que, apesar de plausíveis, não podem ser adotadas, uma vez que há um grande impasse sobre o assunto e apenas alguém vivo da época poderia confirmar com maior autoridade. 

Versão Claudio Giória
"Veja que os textos são confusos, mas pelo que dá para entender, existia um clube em Americana chamado Cultura Fantasma que sabe-se lá porque começou a jogar com a camisa do Rio Branco. Completamente amador em uma época que o futebol era completamente profissional. O que parece - e é reforçado pela total ausência de cobertura pelos jornais de Americana da época - é que como o Rio Branco não tinha futebol, um clube amador resolveu "emprestar" a camisa do clube. Daí a considerar que de fato é o Rio Branco em campo vai uma larga diferença, a não ser que tenhamos "fatos novos".

Repare que a chapa que venceu a eleição daquele ano, com esse time em plena atividade, tinha o nome de "O Tigre Voltará". Completamente contraditório.

A única "cobertura" de um jogo é justamente esse contra o Vasquinho, muito provavelmente porque era contra o principal clube da cidade à época, com foto e tudo mais. Mas repare que não existe qualquer menção (e também nos informativos posteriores ou anteriores) de que o Rio Branco estava de fato tentando retomar o futebol (aí o Liberal conta essa história anos depois e acrescenta uma informação que a gente não sabe de onde tirou). Diante desse quadro todo, polêmico admito, resolvi adotar esse critério de não considerar esse Cultura Fantasma o Rio Branco só porque em determinado momento, teria passado a jogar com a camisa do Rio Branco, meio que do nada.

Com a construção do estádio caminhando e todos no clube vivendo isso, se o Rio Branco tivesse tentando se reorganizar para voltar, acho muito difícil que isso não ganhasse espaço na imprensa e mesmo no boletim do clube. Tem uma menção em um boletim de 1974 que embora com o futebol parado "há anos", a construção do estádio seguia.

Tenho marcado em outro lugar que o Cultura era formado por sócios do Rio Branco. Mais um indício que um grupo formou um time e "do nada", passou a jogar com a camisa do Rio Branco emprestada, afinal eram sócios do clube e não tinha futebol mesmo (volto a repetir que o Rio Branco sempre tratou seu departamento de futebol nesta época como desativado). Não li em lugar algum ao longo dos anos, qualquer indício que fosse - e nem ouvi de pessoas com quem falei - algo que pudesse indicar algo na linha da teoria de Gabriel Pitor. Acho que a chance de "algo disfarçado" é praticamente zero em pleno anos 70. O Jota, que viveu muito essa época e sabe muito, crava o fim do futebol do Rio Branco após a venda do campo da Fernando de Camargo, em 1959, e a volta em 1979 (ele inclusive deu uma entrevista pra mim dizendo que nos anos 70, participou de um debate na Rádio Clube com a diretoria do Rio Branco sobre a volta do futebol, mas a maioria era contra por causa dos gastos). Existia uma corrente muito forte no clube contra a volta do futebol. O Jairo Camargo Neves, outro que viveu essa época, nunca mencionou nada sobre esse Cultura. O Délcio Dollo já morreu.

Seria legal se fosse uma iniciativa do Rio Branco voltar, mas acho pouquíssimo provável. Porém, é tudo achismo."

Versão Gabriel Pitor
"Nos textos, "O Fantasma era um "Tigre" invicto" e nas "Notícias Breves", deram a entender que o Rio Branco bancava esse "Cultura Fantasma". Era o Tigre jogando os campeonatos amadores com um outro nome, com um nome "escondido", sem dar na cara que era o próprio Rio Branco, talvez para não causar muito alarde e uma pressão para que o time voltasse ao futebol profissional - algo que custaria muito mais aos cofres do clube. Cultura Fantasma não era um outro time, era o Rio Branco, jogando com um nome diferente. Foi isso que deu a entender dos boletins. Cultura Fantasma me parece ser sim o Rio Branco, e não apenas um time que emprestou a camisa. As duas partes que mais evidenciam que o Cultura era, de fato, o RB, são essas: "Com tempo o todo mundo ficou sabendo que o FANTASMA que "assombrava" a cidade com 28 partidas era invictas era o Rio Branco E.C." e "A equipe que jogava com o nome de Cultura Fantasma, era o esquadrão de testes, do Rio Branco E.C.". Acho que as partes que eu destaquei no texto dão um tom de certa forma convincente de que era o Rio Branco. Nos dois textos eles noticiaram da mesma forma: o Cultura Fantasma era o Rio Branco "mascarado".

Para explicar a minha teoria de que o Rio Branco usava outro nome para não causar alarde, uso o panorama do Vasquinho. O Vasco, apesar de ser o primeiro time da cidade na época, encontrava muitas dificuldades financeiras. Quem bancava o time era Coletta (aliás, ex-jogador do Rio Branco). Mesmo assim, o apoio da cidade era muito restrito, muito fechado. Até mesmo a torcida vascaína não levava bons públicos ao Victório Scuro. E os cartolas vascaínos eram amigos de cartolas riobranquenses - aliás, alguns eram diretores de ambos os times. Imagine o seguinte cenário: Vasco quebrado; Rio Branco começa a jogar o campeonato amador com o seu nome real, ou seja, Rio Branco; o estádio alvinegro estava sendo projetado - obviamente, iria surgir em Americana um movimento muito forte em torno da volta do Tigre ao futebol profissional e contando com apoiadores da cidade, o que culminaria na extinção do Vasco de Americana. Aliás, outra coisa maluca: se realmente o Tigre tinha intenção de voltar ao futebol caso vencesse o amistoso contra o Vasquinho, o Dragão da Conserva jogou pela sua sobrevivência nesse amistoso. Se o Rio Branco voltasse, era o fim do Vasco. Influência por influência, o Tigre tinha muito mais para conseguir apoio do que o Vasco - que já estava quase falido e depois tentou uma estratégia furada de mudar o nome para Americana EC. Pensando em tudo isso, o Rio Branco usou o nome "Cultura Fantasma", escondido, para não causar alarde, para não haver pressão por volta, para não fazer a besteira de voltar antes de estar realmente preparado para isso. E, evidentemente, para não criar uma força somente em torno do Tigre, deixando o Vasco marginalizado e mais próximo ainda da falência.

Não vou concluir. Vou deixar em aberto. Mas, com esses boletins, reforça a minha ideia de que esse Cultura é o Rio Branco jogando o amador com outro nome. Imagine que você tenha uma empresa com nome X, mas você se inscreve em um campeonato com um nome Y. Esse é o paralelo tênue entre Rio Branco e Cultura Fantasma. O futebol do alvinegro continuou existindo, mas com outro nome para não causar grande alarde nos amadores americanenses."

O Vasco no Victório Scuro
Perder para o Vasco no Victório Scuro não é nenhum absurdo. O "Caldeirão do Dragão" era, de fato, um caldeirão para os seus adversários e alguns dados comprovam isso. 

VASCO NO VICTÓRIO SCURO (EXCLUINDO-SE O AEC E AMISTOSOS)
Jogos: 96
Vitórias: 55 (57,3%)
Empates: 24 (25%)
Derrotas: 17 (17,7%)
Gols pró: 166
Gols contra: 87
Maior vitória: 08/09/1968 - Vasco 6x0 Rio Branco de Ibitinga | 06/10/1968 - Vasco 6x0 Amália
Maior derrota: 01/06/1975 - Vasco 1x4 Independente
Times que não perderam para o Vasco em Victório Scuro: São Carlos Clube, Noroeste, Ponte Preta, Botafogo/SP, Rio Claro e Independente
Alguns times que já foram derrotados pelo Vasco em Victório Scuro: Amparo AC, Oeste de Itápolis, Santo André, Bragantino, Nacional, Francana, Esportiva Guaratinguetá, Velo Clube, Ginásio Pinhalense, Sertãozinho, União Barbarense e Araçatuba. 
Time que mais vezes venceu o Vasco em Victório Scuro: São José (3)
Times que mais vezes foram derrotados pelo Vasco em Victório Scuro: Esportiva Guaratinguetá, Nacional e União Barbarense (3)

- O Vasco ficou três anos invictos em seu estádio. Neste tempo, 26 jogos aconteceram: 23 vitórias e 3 empates, sendo 79 gols marcados e 17 sofridos. A invencibilidade começou em 19 de junho de 1966 na vitória por 1 a 0 sobre o Araras CD e terminou em 06 de julho de 1969 na derrota por 2 a 1 para o São Carlos Clube. 
- Outra grande invencibilidade engloba 20 jogos: começando por uma vitória no dia 18 de março de 1973 por 2 a 0 sobre o São José e encerrando no dia 16 de junho de 1974 na derrota para o Rio Claro por 2 a 0. Neste período, foram 13 vitórias e sete empates, sendo 32 gols feitos e 12 sofridos. 

O Rio Branco após o jogo contra o Vasco
Não há notícias sobre o esquadrão riobranquense após a derrota para o Vasco. Se realmente o Tigre tinha a intenção de voltar ao futebol com uma vitória sobre o Dragão da Conserva esses ânimos esfriaram. 

Os jogos entre Rio Branco x Vasco que estavam programados para o ano seguinte em suposta disputa de taça não foram realizados, dando tons de "desaparecimento" do Cultura Fantasma.

CRÉDITOS
Matéria feita por Gabriel Pitor Oliveira. Muitos dados aqui relatados são do acervo de Gabriel Pitor Oliveira. Colaborações de Claudio Giória e Caio Pires Ribeiro. 

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Rio Branco é Campeão Paulista de vôlei em 1983

3/20/2015 0 Comments

Há 31 anos, no dia 10 de dezembro de 1983, o Tigre conquistava mais uma glória esportiva em sua rica história de 101 anos. Naquele dia, o Rio Branco venceu o XV de Jaú por três sets a zero - um verdadeiro passeio -, e sagrou-se campeão estadual de voleibol. 

1983 é um ano bastante glorioso ao alvinegro, na época presidido por Luis Mário Marin, ou "Tchida Marin". No ano em questão, o Tigre conquistou o título do estadual de vôlei, fez uma belíssima campanha no paulista de hóquei, e no futebol bateu na trave, quase subindo à elite estadual, mas parando no XV de Piracicaba que tinha um meio de campo comandado por Pianelli. Além disso, a parte social do Rio Branco recebeu grande atenção, tendo seus bailes e domingueiras com grande sucesso e procura. 

Confira a matéria do O Liberal de terça-feira, 13 de dezembro de 1983. Vale lembrar que, na época, os jornais não circulavam nas segundas-feiras, e mesmo a decisão sendo no sábado, o domingo passou sem qualquer notícia esportiva. 


Transcrição da matéria 
Com uma atuação praticamente perfeita, a equipe de voleibol masculina do Rio Branco - conveniada com a prefeitura - sagrou-se vencedora do Campeonato Estadual da modalidade. O jogo que decidiu o título foi realizado sábado à noite no ginásio de esportes "Milton Fenley Azenha", no Centro Cívico, e em apenas 52 minutos o sexteto local conseguiu passar sobre o 15 de Novembro, de Jaú, por 3 sets a zero. 

 Foi o segundo jogo das finais já que, uma semana antes, o Rio Branco também havia derrotado o 15 por 3 sets a 1, na cidade de Jaú. O técnico Zito, após a vitória, chegou a afirmar que "esperava mais do adversário, que não jogou nem a metade do que sabe". Porém, ressalvou o valor dos atletas locais que praticaram um voleibol de muita qualidade. 

Os dois árbitros do jogo - Vicente Canahunga e Saulo Afonso -, não tiveram muito trabalho já que a superioridade técnica riobranquense não permitiu muitas ações ofensivas por parte do 15. Toda a equipe americanense conseguiu manter-se acesa. Não houve substituições e os seis jogadores que atuaram cumpriram o determinado. 

 Há de se ressaltar o trabalho de Mário, Lélio, Luis Fernando, Marcelinho, Marcos Nunes e Edmilson. Esta vitória, que significa o título do Estadual, confirmou mais uma vez a volta do Rio Branco à 1ª Divisão na próxima temporada, ao lado das grandes equipes de São Paulo (casos de Pirelli, Pinheiros, Paulistano, Fonte São Paulo e outras). O 15 de Jaú também subiu. 

CAMPANHA DO RB 
Rio Branco 1x3 Ipanema, 3 a 0 sobre Piracicaba, 0 a 3 para Itapema de Guarujá (WO), 3 a 1 no Ipanema, 3 a 2 em Piracicaba, 3 a 0 no Itapema, 3 a 2 na Associação Atlética Banco do Brasil, 3 a 2 sobre Osasco, 3 a 0 no Ipanema, 3 a 0 sobre o Banco do Brasil, 3 a 0 com Osasco, 3 a 1 no Ipanema, 3 a 2 no Náutico, 3 a 0 no Náutico, 3 a 1 no 15 de Jaú e 3 a 0 no 15 de Jaú. 

TRÊS REFORÇOS 
O técnico Zito revelou, ontem à tarde, que o Rio Branco deverá manter o atual elenco de voleibol e tentar a contratação de três reforços para o próximo mês. Magal, Aldmir e Mário Maringuela estão sendo contactados e propostas à altura da técnica do voleibol destes jogadores serão oferecidas até o final de dezembro. A possibilidade maior de aquisição está sobre Magal, integrante da seleção "B" do Brasil que, neste ano, disputou a Universidade. Marcio Maringuela - atualmente no Palmeiras e morando na Capital, será convidado. Já Aldmir, da Fonte São Paulo, apesar de estar na lista de contratações, tem a sua vinda um pouco mais dificultosa. Isto porque a Fonte não exibe vontade de perder o jogador. A movimentação para que empresas da cidade patrocinem o vôlei também já se iniciou. A Jacyra foi a única durante a temporada de 83 e deverá permanecer contratualmente. 

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Jaú torceu pelo AEC no título da Seletiva em 77

3/20/2015 0 Comments

A maior glória do AEC, em três anos de vida com esse nome, aconteceu em 1977. Mais especificamente na segunda para a terceira semana de abril. Em sete dias, o time aequino, considerado um fracasso pela ruim campanha na Segundona de 76, virou destaque e herói de uma das páginas mais emocionantes do esporte americanense. 

Antes, vamos retornar para o ano de 1976, em fevereiro daquele ano. No dia 8, na sede social do Esporte Clube Vasco da Gama, foi oficializada a troca de nome do Vasquinho para Americana Esporte Clube, o AEC (leia-se aéc). Saiu de cena o Dragão e entrou em cena o alvi-anil americanense. 

O primeiro campeonato aequino em 1976 foi a segunda divisão estadual, conhecida na época como 1ª Divisão (a elite se chamava Divisão Especial). A esperança era de que o AEC fizesse uma campanha de brilho, mas decepcionou totalmente, lutando até a última rodada para não cair. No total, 26 jogos: 5 vitórias, 15 empates e 6 derrotas. A equipe só se salvou após empate sem gols na última rodada contra o Velo Clube. 

Porém, em 1977, aconteceria uma reformulação nas divisões, fazendo com que muitos times fossem rebaixados pelo "facão" e cinco times disputassem uma Seletiva: AEC, Batatais, Linense, Sertãozinho e Votuporanguense. O campeão ficava com a 20ª e última vaga da Segundona-77. 

A fórmula era a seguinte: os dois piores que se salvaram em 76, Americana e Votuporanguense, disputariam um jogo único de mata-mata como primeira fase. O vencedor desse confronto enfrentaria o Batatais na semifinal. O outro jogo da semifinal já estava definido: Linense x Sertãozinho. Os vencedores da semifinal fariam a final, sendo o campeão detentor da vaga na Segundona. 

Mando neutro. Os jogos da primeira fase e da semifinal seriam disputados em Araraquara, no Adhemar de Barros. E a final seria disputada no Zezinho Magalhães, em Jaú. 

Na primeira fase, então, o AEC foi até Araraquara jogar contra a Votuporanguense. Cerca de 70% do público presente torcia para a AAV, deixando o desafio mais complicado ao esquadrão aequino. Todavia, o alvi-anil não decepcionou e com dois gols isolados derrotou a Votuporanguense por 2 a 0, naquele 10 de abril. AAV rebaixado. 

Os americanenses que viajaram até Araraquara não voltaram e se hospedaram em hotéis da Morada do Sol. A semifinal da Seletiva, contra o Batatais, aconteceria em 13 de abril, ou seja, não compensava a volta à Americana. Os aequinos ficaram e outros alvi-anis viajaram um dia antes do confronto para Araraquara. 

No dia 13 de abril, então, aconteceu a semifinal da Seletiva no mesmo Adhemar de Barros. Nos 90 minutos e prorrogação não tiveram vencedor: 1 a 1. Dessa forma, a decisão foi para o pênaltis. E os araraquarenses, ainda na prorrogação, ao saberem que o jogo estava indo para os pênaltis começaram a ir ao estádio apenas para a ver a disputa de faltas máximas. Ou seja, o jogo começou com um público bem menor do que quando terminou. 

Na disputa de pênaltis, 2 a 2 até a quinta e última cobrança. A torcida araraquarense, especificamente da Ferroviária, apoiava o Batatais, time mais próximo da cidade da Região Central. O Batatais bateu a quinta cobrança e perdeu. Ligão bateu para o AEC e anotou. 3 a 2! AEC na final. Batatais rebaixado. Na outra semifinal, também em Araraquara, vitória do Linense por 4 a 1 sobre o Sertãozinho. 

A decisão em Jaú


Expectativa enorme dos americanenses para a decisão em Jaú. O Linense era o melhor da Seletiva, até mesmo olhando a colocação final na Segundona-76. O AEC, pelo contrário, era considerado o pior, e todas as apostas davam conta que o time aequino cairia já na primeira fase para a Votuporanguense. 

Porém, na prática, o número de aequinos só se equiparou ao número de torcedores do Linense por causa da torcida jauense, mais especificamente do XV. Veja o registro do jornal O Liberal de 19 de abril: 

"A arrecadação no estádio Zezinho Magalhães, em Jaú, foi anunciada como a de 60 mil cruzeiros aproximadamente, com quase 4 mil pessoas pagando ingresso para ver a decisão. A expectativa era de que o público comparecendo em número bem maior. Previa-se cerca de 10 mil pessoas, especialmente, é claro, a massa torcedora da nossa cidade.

As dificuldades, ao que parece, foram inúmeras, inclusive com o preço cobrado pela empresa de ônibus, e que provocaram a ausência de muita gente americanense na agradável cidade jauense. Havia muitos torcedores do Linense, em número superior ao do AEC, mas mesmo assim a festa começou no mesmo estádio municipal de Jaú, com o devido brilho de uma decisão. 

Muitos rojões foram espoucados, inúmeras bandeiras eram agitadas, e desde a avenida da Saudade até as principais ruas do centro a festança foi das mais comoventes e envolventes. 

Torcida do XV esteve ao nosso lado
Quando os torcedores do AEC chegavam a Jaú, centenas e centenas de panfletos eram distribuídos pelas ruas da cidade conclamando a torcida do XV a prestigiar o <<Elefante da Noroeste>>, na luta contra o Americana EC. Imediatamente os elementos da nossa Rádio Clube, agindo prontamente para tentar ganhar adeptos no estádio (já que a nossa torcida era a de menor número), dirigiram-se às duas emissoras locais e fizeram apelos para que a torcida fosse pelo Americana, invocando várias justificativas e enaltecendo o acesso da representação jauense à Especial, de forma brilhante. 

O radialista Geraldo Pinhanelli, que durante 8 anos esteve atuando na radiofonia jauense, relembrou momentos de uma decisão entre Linense e XV de Jaú, no Pacaembu, em S. Paulo (onde trabalhara naquela oportunidade como repórter volante), e quando naquela oportunidade a torcida linense hostilizou contundentemente a massa torcida de Jaú, e outros detalhes daquela inesquecível decisiva. 

Muito bem. No estádio, quando da partida, dezenas e dezenas de bandeiras do <<Galo da Comarca>>, do XV local, se faziam presentes, e para a surpresa dos linenses, o incentivo e a torcida apresentavam-se para o nosso AEC, que pôde ficar mais à vontade e jogar o seu real futebol."

Iniciou-se, então, em campo, uma grande peleja entre AEC e Linense. O pior e o melhor, segundo a imprensa. Sérgio anotou o primeiro gol aequino. Paulo Dias, com dois tentos, virou o jogo para os linenses, desesperando os americanenses e jauenses. Porém, Niltinho e Paulinho viraram novamente para o Americana EC, levando o estádio Zezinho Magalhães a euforia. Vitória aequina por 3 a 2 em Jaú, e passeata pelas ruas da cidade. 

No vestiário americanense, após o prélio, festa e muitas lágrimas e sorrisos. Além, é claro, de muitos elogios aequinos ao povo jauense e ao gramado do estádio do XV de Jaú. Na volta para a cidade de Americana, os alvi-anis fizeram uma verdadeira festa, muito barulho, muita gritaria e cantos. Ao chegar na Princesa Tecelã, mais festa e mais passeata com os jogadores. 

O "O Liberal" destacou o seguinte: "A cidade viveu semana das mais movimentadas e um clima de expectativa realmente fantástico para a estreia na Segundona-77. Uma grande festa feita pelos torcedores, revivendo a grande conquista do Vasco em 1969, em Bauru."

Naquele ano, o AEC repetiria campanha ruim na segunda divisão e só escaparia do rebaixamento na última rodada, após vitória sobre o Rio Preto, em casa, por 1 a 0. Entretanto, o que marcou e salvou o ano do Americana foi esse grande campeonato da Seletiva, que terminou com o time alvi-anil campeão. 

FICHA TÉCNICA
Americana EC 3x2 Linense - 17/04/1977
Local: Zezinho Magalhães (Jaú)
Árbitro: Ulisses Tavares da Silva Filho
AEC: Carlinhos; Carioca, Adalberto, Coutinho (Badeco) e Ferreira; Sérgio e Paulinho; Vande (Marcos), Nelsinho, Niltinho e Ligão.
Linense: Raimundinho; Roberto, Sinval, Gué e Claudio; Toninho (Bento) e Noriva; Cardosinho, Juna (Nandinho), Paulo Dias e Vanderlei. 
Gols: AEC - Sérgio, Niltinho e Paulinho; Linense - Paulo Dias (2). 

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Retrospecto: AEC x Aliança

3/20/2015 0 Comments

7 jogos | 1 vitórias | 4 empates | 2 derrotas | 3 gols feitos | 5 gols sofridos

2ª Divisão 08/08/1976 Americana 0 x 2 Aliança Victório Scuro
2ª Divisão 31/10/1976 Aliança 1 x 1 Americana Baetão
2ª Divisão 08/05/1977 Americana 0 x 0 Aliança Riobrancão
2ª Divisão 10/07/1977 Aliança 0 x 0 Americana Baetão
2ª Divisão 21/09/1977 Aliança 1 x 2 Americana Baetão
2ª Divisão 06/11/1977 Americana 0 x 1 Aliança Riobrancão
Amistoso 01/05/1979 Americana 0 x 0 Aliança Riobrancão

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A camisa listrada do Vasco

3/20/2015 0 Comments

Quando fala-se em Vasco, logo vem a mente uma camisa com uma faixa cortando diagonalmente. O tradicional do Vasco do Rio, e até mesmo utilizado pela própria Ponte Preta. Não foi o caso do Dragão em 1973/1974. 

Alegando "má sorte" com a camisa em faixa, o diretor Roberto Monzillo sugeriu para a diretoria cruzmaltina que o uniforme fosse trocado para o listrado. O motivo era de que todos os times que, na época, usavam o primeiro uniforme listrado (Inter de Limeira, Bragantino, Independente...) se saíam bem nos campeonatos. Uma superstição estranha, mas que foi aprovada pelo conselho vascaíno.

Não adiantou. Em 1973, o Vasco caiu logo na primeira fase, tendo que disputar, no segundo semestre, o torneio Marcelo Castro Leite. Uma espécie de "Copa Renegados" apenas para completar o calendário. E, em 74, o time até que começou bem, mas caiu de produção e no final teve que se segurar para não cair de divisão. 

De bom naqueles dois anos foram as fotos do esquadrão com o belo uniforme cruzmaltino americanense. Belíssimo.


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