Tigre é bi-campeão do interior em 23

4/26/2014 , 0 Comments

No ano de 1923 o Rio Branco (que foi campeão da Região da Baixa Paulista) chegou novamente às finais do interior, quando fez um jogo histórico diante da Francana, no campo do Corinthians. Sob temporal, o time bateu a até então invicta campeã da Zona Mogiana por 1 a 0, gol de pênalti de Fructuoso, e colocou a mão na taça, que seria conquistada após um empate sem gols com o Sorocabano, no dia 10 de fevereiro de 1924.

Foi também em 1923 que houve os primeiros relatos de que o mascote e o símbolo riobranquense seria um Tigre.


Equipe bi-campeã em 23 com apenas 10 anos de fundação

Segue abaixo a campanha completa dessa saga dos títulos da Zona Paulista e do Campeonato do Interior, conquistado pela segunda vez pelo Tigre e cujo troféu está ao lado da tabela de jogos. O Rio Branco, fundado em 1913, ou seja, há 10 anos, era já um gigante do estado na era do amadorismo do futebol.

08.07.1923 - Rio Branco 0 x 0 Internacional (Limeira) Limeira – SP
22.07.1923 - Rio Branco 1 x 1 Carioba (Americana) Americana – SP
12.08.1923 - Rio Branco 1 x 3 Rio Claro (Rio Claro) Americana – SP
19.08.1923 - Rio Branco 3 x 1 Guarani (Campinas) Americana – SP
02.09.1923 - Rio Branco 3 x 1 XV de Novembro (Piracicaba) Americana – SP
09.09.1923 - Rio Branco 3 x 3 Ponte Preta Campinas/Campo do Pastinho – SP
16.09.1923 - Rio Branco 2 x 0 Velo Clube (Rio Claro) Rio Claro – SP
23.09.1923 - Rio Branco 2 x 1 Palestra Itália (São Carlos) Americana – SP
07.10.1923 - Rio Branco 1 x 0 União Agrícola - Sta Bárbara d’Oeste
21.10.1923 - Rio Branco 1 x 0 Palestra Itália (São Carlos) São Carlos – SP
28.10.1923 - Rio Branco 4 x 0 União Agrícola - Americana – SP
04.11.1923 - Rio Branco 0 x 3 Rio Claro (Rio Claro) Rio Claro – SP
15.11.1923 - Rio Branco 1 x 0 Carioba (Americana) Americana – SP
18.11.1923 - Rio Branco 1 x 1 Guarani (Campinas) Campinas – SP
25.11.1923 - Rio Branco 1 x 1 Internacional (Limeira) Americana – SP
02.12.1923 - Rio Branco 3 x 1 Ponte Preta (Campinas) Americana – SP
23.12.1923 - Rio Branco 1 x 0 Velo Clube (Rio Claro) Americana – SP
06.01.1924 - Rio Branco  1 x 0 Paulista (Jundiaí) São Paulo – SP
25.01.1924 - Rio Branco 1 x 0 Francana (Franca) São Paulo – SP
10.02.1924 - Rio Branco 0 x 0 Sorocabano (Sorocaba) São Paulo – SP

Assim relatou as festas pelo bi-campeonato o jornalista Claudio Giória: “A notícia de mais um título para o Tigre fez os torcedores lotarem o Cinema Central de Vila Americana, palco tradicional de comemorações na cidade, para cantarem o hino do clube. Com uma bateria de fogos, a torcida se reuniu para recepcionar os campeões, que haviam acabado de ganhar a taça Odilon Ferreira. Cinco dias depois, o Rio Branco decidiu confeccionar medalhas de ouro para os jogadores e começou a arrecadar dinheiro. Na festa pelo título, gastou-se CR$ 125 em pastéis para os jogadores. Cada diretor do clube foi convidado a contribuir com CR$ 13.” 

O Jornalista relata ainda em seus levantamentos que em 23 no carnaval da cidade, houve uma homenagem ao grande time riobranquense de 22, Campeão do Centenário. Um dos carros alegóricos trazia um Tigre olhando para um índio bugre (mascote do Guarani) feito de forma bem cabisbaixa sob as suas garras. Era uma alusão à supremacia que o Rio Branco tina sobre o rival de Campinas, ganhando até mesmo na final da Zona Baixa Paulista. 

Clássico contra o Carioba: O Tigre passava, em 23, sem perder para o Carioba. E essa foi a tônica de quase todo esse histórico confronto americanense. Foram 31 jogos, com 20 vitórias do RB, cinco empates e cinco vitórias do Carioba. 62 gols marcou o alvinegro, contra 37 dos cariobenses. A rivalidade era muito grande naquela época e sempre haviam jogos tensos. O Rio Branco "viajava" para jogar em Carioba e, por vezes, se hospedava no local, sendo uma sensação naquela vila industrial. Torcedores riobranquenses tinham os rivais cariobenses como "escravos", "colonos" ou "selvagens", xingamentos que muito se ouvia na época.

Segundo clube mais antigo da cidade, o Clube Recreativo e Sportivo Carioba, fundado em 9 de julho de 1914, disputaria na era profissional duas vezes a Quarta Divisão (a chamada “Terceirona”, por que havia a Divisão Especial). Seu uniforme principal trazia calções vermelhos, camisas brancas com listras na horizontal em vermelho e preto (idêntica a do São Paulo F. C.). O Carioba se encontra extinto. 


Rio Branco é "garfado" na final da Taça Competência

O Tigre perderia o Titulo Paulista da chamada Taça Competência, que estava em sua sexta edição, novamente para o Corinthians, dessa vez, de virada e por questionáveis 2 a 1. O jogo ocorreu em 30 de março de 1924, no “Palestra Itália”.

O Tigre saiu na frente, mas levou a virada com gols de Pinheiro e Tatu. Quem viveu próximo à época, como o radialista Geraldo Miante, da Rádio Azul Celeste, lembra dos comentários da ainda Villa Americana e jura que o Rio Branco foi prejudicado demais pelos árbitros nos dois confrontos contra o Corinthians em São Paulo. “Meteram a mão no Tigre”, revive. 

Na crônica ao lado, da imprensa da própria capital da época (do acervo do Marcel Pilatti), há o questionamento acerca do primeiro gol do Corinthians, quando o árbitro havia apitado entrada no goleiro riobranquense, mas com a feitura do gol, não foi capaz de anular.

O Corinthians conquistaria seis vezes a Taça Competência, que foi disputada de 1918 até 1932. Foi o maior campeão dessa competição. Apenas o Rio Branco e o Paulista, de Jundiaí, chegaram a final duas vezes, como campeões do interior.

Em 1924 não haveria a disputa dessa taça, o Corinthians era proclamado campeão, em virtude da chamada revolução de 1924, não houve disputa do campeonato do interior.

Nossos heróis!


A homenagem do blog ao Rio Branco, aos heróis da década de 20, que jamais pode ser esquecida, aos jornais e jornalistas (especialmente Cláudio Giória, que em sua coluna no Jornal Todo Dia colocou grande parte desse acervo) e a torcida. A imagem abaixo é dos jogadores que trouxeram para Americana as glórias de todo Estado por uma década de ouro. 

Aristides Pisoni: foi goleiro do Rio Branco de 22 a 26, tendo jogado 43 jogos. Foi bi do interior em 22 e 23. Sua família seguiu no RB, os filhos Athos e Oswaldo (primeiro goleiro a tomar gol no Maracanã, pelo Bangu-RJ) A esposa, Jovina Brambilla, foi a primeira mulher associada ao clube, em dezembro de 1923. Faleceu no dia de Natal de 1969, em Americana, terra que escolheu para morar e desenvolver a carreira e a função de alfaiate. Nasceu em Itatiba-SP. Virou nome de praça de esportes na Princesa Tecelã.

Raphael Vitta: irmão de Alfredo Vitta e Paschoal Vitta ("Paschoalino"). Eram os líderes do time fantástico do início dos anos 20. Segundo o historiador e jornalista Claudio Giória, era "linha dura, comandava os treinos do Rio Branco e não aceitava reclamações de cansaço, mesmo sob sol forte. Era respeitado por todos dentro do clube. Sua mulher, Maria Diniz Rita era a responsável por lavar os uniformes e lustrar as taças da década de 20". Seu nome é emprestado a uma grande avenida em Americana, a principal via que leva ao estádio Décio Vitta (filho de Raphael). Morreu novo em 22/09/1975, em Catanduva. Minão Vitta, ex-presidente, e cujo nome é Raphael também, foi seu neto.

Paschoal: mais um dos Vitta muito bom de bola. Marcou 28 gols de 1920 a 1926, em 62 jogos.  Era vendedor em Villa Amerciana e tinha um chute muito potente.

Augusto Américo: anotou 22 gols na história como jogador do RB de 1922 a 1925. Atuou em 39 jogos. No time de 21 começou como zagueiro, mas até 25 passou para o ataque. Negro, chegou na cidade, segundo Giória "a convite do padre Vicente Rizzo, um incentivador do esporte na Villa". Faleceu em 1953 na capital paulista.


*Todos os especiais do blog contém dados e fotos extraídos de pesquisas na internet, jornais de Americana e acervo próprio. Se alguém se sentir lesado por algum dado aqui colocado, o blog fará a exclusão ou retificação.

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