Década de 20 do Rio Branco Esporte Clube

4/26/2014 , 0 Comments

Na década de 20, o máximo que um clube do interior poderia almejar era ser campeão paulista do interior. A competição, nesses moldes, foi disputada a partir de 1919 e ninguém a não ser o Rio Branco Football Club foi campeão duas vezes nos anos 20, como acompanharemos na sequencia.

As primeiras conquistas do futebol ocorreram em 1921, com os títulos de campeão da Região e campeão da Zona Paulista, ganhando o direito de disputar o título de Campeão do Interior com os demais campeões (entenda mais abaixo).

Base: Alfredo Maia; Alfredo Vitta e Augusto Américo; Joaquim Azanha, José Conegundes e Rafael Vitta; Antonio Machado, Virgilio Braga, Paschoal Vitta, José Bortolato e Albertino Machado.

Demais: Carabina, Macaco, Eduardo Guedes, João Cibin, Salvador Dias (Dodô), Mario Oliveira e Julião Justi.

Jogo a jogo:

18/12/21 – Concórdia 1-0 Rio Branco – Campinas
25/12/21 – Rio Branco 2-0 Pirassununguense – Americana
8/01/22 – União Agrícola 0-2 Rio Branco – Santa Bárbara
22/01/22 – Guarany 1-2 Rio Branco – Campinas
29/01 – Guarany 2-5 Rio Branco (Final da Zona Paulista) – Jundiaí

Como campeão da Zona Paulista, o clube prosseguiu na disputa do Campeonato Paulista do Interior, jogando com campeão de outras zonas (leia a saga vice-campeã abaixo).

Todos os jogadores trabalhavam até às 17h e seguiam para treinar no Rio Branco, sendo que, depois do treino, o preparo físico era garantido com uma corrida pelas ruas da cidade. Nessa época, cada acontecimento envolvendo o clube mobilizava a cidade, desde um simples amistoso até uma decisão de título.

Outro detalhe é que o “Tigre da Zona” (por causa da região, chamada de Zona Paulista, depois se adotou o apelido de “Tigre da Paulista”), como era conhecido por alguns, foi o primeiro bi-campeão do interior, sendo duas vezes consecutivas. Isso com fundação em 1913, ainda como Sport Club Arromba.

Entendendo: naquela época, os clubes do estado eram divididos em cinco grupos, determinados por regiões: Capital, Baixa Paulista, Alta Paulista, Mogiana e Central do Brasil. O Rio Branco pertencia à Baixa Paulista, que junto com a Alta Paulista, formava a Zona Paulista.

Em 1918 a APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos), resolveu criar uma nova competição: o Campeonato do Interior. Junto com essa novidade veio a Taça Competência, ou seja, o campeão do interior disputaria com o campeão do torneio que já vinha sendo organizado desde 1913 (divisão principal), o título de Campeão do Estado de São Paulo.

Em 1921, faltou pouco ao RB, mas o campeão da Zona Paulista seria vice-campeão do fortíssimo Campeonato do Interior, organizado pela APEA.

Jogo a jogo:

24/02/22 – Rio Branco 1-2 XV de Piracicaba – Jundiaí
03/03/22 – Taubaté 1-4 Rio Branco – São Paulo no Campo do Ipiranga
Sem data específica – Rio Branco 2-0 Comercial (Ribeirão Preto) – São Paulo
19/03/22 – Paulista 1-0 Rio Branco – São Paulo no Campo do Ipiranga (final)

Rio Branco: Mário; Alfredo e Frutuoso; Rafael, Carabina e Carrinho; José Rodrigues Junior, Braga, Paschoalino, Augusto e Borolato.

Mesmo sem o título, os atletas eram recebidos com grande banquete em Americana. Assim o jornalista Claudio Giória resgatou esse momento histórico para o clube:

O Rio Branco estreou no Campeonato do Interior em 1921 e logo de cara fez bom papel, chegando ao título da Zona Paulista. Com uma vitória por 2 a 1 sobre o Guarani em 22 de janeiro de 1922, o Rio Branco terminou com o mesmo número de pontos que o Bugre, o que provocou um jogo desempate, na semana seguinte, em Jundiaí. A partida foi violentíssima, com os ânimos acirrados, e terminou com uma goleada de 5 a 2 para o Rio Branco. Embora o título fosse simbólico, é a primeira conquista da história do futebol do Rio Branco.

Na fase final, o Tigre chegou à última rodada precisando apenas de um empate diante do Paulista, mas acabou derrotado por 1 a 0, no campo do Ipiranga, em São Paulo, e viu a taça escapar de suas mãos.

1922 - Campeão do Centenário, o mais importante título da história

As principais glórias do Rio Branco foram em 1921 e 1922 (mas com campeonatos encerrados em 1922 e 1923, respectivamente), com o bi-campeonato do interior. Em 1922, ano do Centenário da Independência, o alvinegro conquistou o Campeonato Paulista do Interior e disputou contra o Corinthians, no Parque Antarctica, a final do estado, valendo o título da Taça Competência e o título de Extra Campeão Paulista, porém, perdeu por 5 a 0, no dia 3 de maio, mas de 1923.

Antes de chegar ao Corinthians, o Tigre, então campeão da Zona Paulista, encarou o Taubaté, campeão da Zona Sorocabana. Vamos à saga:

Jogo a jogo - Campeonato do Interior
Fase regional 1º turno

13/08/22 – Rio Branco 3-1 Guarany – Americana (Paschoal (2) e Augusto Américo)
03/09/22 – Rio Branco 2-0 São João de Jundiaí – (Paschoal e Augusto)
12/10/22 – Rio Branco 2-1 Paulista de Jundiaí – (Paschoal e Frutuoso)

Fase regional 2º turno

29/10/22 – Rio Branco 2-0 São João de Jundiaí – Jundiaí (Braga e Frutoso)
Sem data específica – Rio Branco 5-2 Guarany - Jundiaí.
*24/02/23 – Rio Branco 1-3 Paulista de Jundiaí – São Paulo (Frutuoso marcou para o RB)

*Partida inicialmente prevista para o início do 2º turno em São Paulo, mas adiada a pedido do Paulista. Lolégio foi o goleiro do Tigre nesse jogo, porém, devido a sua péssima atuação, foi expulso dos chamados quadros do clube.

Com esse resultado, as duas equipes se igualaram em pontos e decidiram a final da Zona Baixa da Paulista. Foi uma partida disputadíssima na capital.

04/03/23 – Rio Branco 2-1 Paulista de Jundiaí – (Final) - São Paulo, Campo do Corinthians (Paschoal e Augusto fizeram os gols do Rio Branco).

Rio Branco: Pisoni; Alfredo e Frutuoso; Carrinho, Carabina e Rafael; Albertino, Bertolato, Augusto, Paschoal e Braga.

Decisão do titulo absoluto da Zona Paulista
Campeão da Zona Baixa X Zona Alta paulista

11/03/23 – Rio Branco 3–2 Rio Claro – Jundiaí (Augusto (2) e Paschoal)

A arbitragem foi de Antonio Dias e a conquista foi brilhante pelos riobranquenses.

Incrível o relato feito no Memorial do Rio Claro F.C.: “Em 08/03/1923, o Rio Claro FC nega-se a enfrentar o Rio Branco FC da Vila Americana, hoje município de Americana, em Campinas por não ser campo gramado. Essa era uma partida válida para decidir o título da Zona Paulista do Campeonato do Interior. O jogo é remarcado para o dia 11.03.1923, em Jundiaí, no campo do Corinthians Jundiaiense FC. Perdemos por 3x2.”

Campeonato Paulista do Interior
Jogos finais

18/03/1923 – São Joanense, de São João da Boa Vista 0-0 Rio Branco - Palestra Itália, em São Paulo.
Sem data específica – Rio Branco 2-0 América de São Roque – Palestra Itália (Augusto e Carabina)
Nesse jogo, Carabina se contundiu logo no início e precisou ser retirado da partida.

Finalíssima do Campeonato do Interior

Último jogo seria entre Rio Branco, campeão da Zona Paulista, com o Taubaté, Campeão da Zona Central do Brasil. Foi um inesquecível combate, que não teve Carabina, ainda contundido. No final, prevaleceu o forte e temido conjunto do time de Americana, campeão do Centenário da Independência.

08/04/1923 – Rio Branco 2-1 Taubaté – Palestra Itália, em São Paulo (Braga e Frutuoso para o Tigre)

Rio Branco: Pizoni; Alfredo e Frutuoso; Ditinho, Rafael e Carrinho; Braga, Paschoal, Herculano, Augusto e Albertino.

Festa com medalhas e homenagens

José da Cunha Raposo, então secretário do Rio Branco F.C. assim descreveu os festejos realizados:

“Aos 21 dias do mês de abril de 1923, a diretoria do Rio Branco F.C. seguida dos amigos do Clube, a grande massa popular e a banda de música local, se dirigiu a estação às 15h30 afim de esperar a comitiva que vinha de São Paulo, a qual era composta pelo Sr. Manoel Freitas de Pinto Jr. Nosso representante junto a APEA e portador da Taça Palmeiras; Jarbas Cid de Godói representando a APEA; Dr. Álvaro Muller; Benedito Cavalcanti representando a Gazeta de Campinas; Taciano de Oliveira representando a Folha da Noite e o Sr. Figueiredo Jr. representante do Estado de São Paulo. Ao som da banda musical ‘Euterpe Vilamericanense’, deu entrada na gare o comboio. Aí recebido por esta diretoria, dirigiram-se todos a esta sede onde lhes foi oferecido um copo de cerveja. Em seguida, a comitiva, acompanhada dos nossos jogadores e diretoria seguiram de automóvel para Carioba, onde visitaram a estação de Regatas e a sede do Clube R. S. Carioba. De volta dessa localidade, percorreram as principais ruas da cidade. Às 19h realizou-se no hotel Brambilla o banquete oferecido por esta Diretoria aos jogadores e comitiva. Ao champagne, o prof. José Cunha Rapozo, brindou os jogadores pelo êxito que alcançaram neste campeonato e terminou oferecendo-lhes o banquete (...) Assim terminou a festa promovida em regozijo a conquista de Campeão do Interior do Estado de São Paulo no ano do 1º Centenário da nossa independência política”.

Final do estado, a “Taça Competência”

Passada a euforia pelo título do Centenário, o Tigre tinha o Corinthians pela frente para a finalíssima do Estado de São Paulo, no duelo chamado de “Taça de Competência”. No campo do extinto Palmeiras, em São Paulo, em 3 de maio de 1923, Corinthians (campeão da Capital) e Rio Branco (campeão do Interior) decidiam o título máximo paulista. O árbitro foi o Sr. Commodo. O placar foi amplo para os paulistanos: 5 a 0.

Rio Branco F.C.: Pisoni; Joanin e Frutuoso; Rafael, Alfredo e Carrinho; Ditinho, Braga, Paschoal, Emilio e Albertino.

Corinthians: Carioca; Del Debio e Rafael; Gelindo, Gambá e Ciasca; Perez, Neco, Almilcar, Tatu e Rodrigues.

A história da Taça Competência segundo o rsssfbrasil


1923 - Bi-campeão Paulista

No ano de 1923, o Rio Branco (que foi campeão da Região da Baixa Paulista) chegou novamente às finais do interior, quando fez um jogo histórico diante da Francana, no campo do Corinthians. Sob temporal, o time bateu a até então invicta campeã da Zona Mogiana por 1 a 0, gol de pênalti de Fructuoso, e colocou a mão na taça, que seria conquistada após um empate sem gols com o Sorocabano, no dia 10 de fevereiro de 1924.

Assim relatou as festas pelo bi-campeonato o jornalista Claudio Giória: “A notícia de mais um título para o Tigre fez os torcedores lotarem o Cinema Central de Vila Americana, palco tradicional de comemorações na cidade, para cantarem o hino do clube. Com uma bateria de fogos, a torcida se reuniu para recepcionar os campeões, que haviam acabado de ganhar a taça Odilon Ferreira. Cinco dias depois, o Rio Branco decidiu confeccionar medalhas de ouro para os jogadores e começou a arrecadar dinheiro. Na festa pelo título, gastou-se CR$ 125 em pastéis para os jogadores. Cada diretor do clube foi convidado a contribuir com CR$ 13.”

Porém, o Tigre perderia o Titulo Paulista da chamada Taça Competência novamente para o Corinthians, dessa vez de virada e por questionáveis 2 a 1. O jogo ocorreu em 30 de março de 1924, novamente no “Palestra Itália”.

Quem viveu próximo à época, como o radialista Geraldo Miante, da Rádio Azul Celeste, lembra dos comentários da ainda Villa Americana e jura que o Rio Branco foi prejudicado demais pelos árbitros nos dois confrontos contra o Corinthians em São Paulo. “Meteram a mão no Tigre”, revive.

Equipe bi-campeã do interior em 1923 com apenas nove anos de fundação. Destaque para Raphael e Alfredo Vitta, que jogaram no título do “Centenário”.

1924 - Prenúncio de Tristeza

Tigre perde a final da Taça Competência ao ser derrotado, de virada, pelo Corinthians, por 2 a 1, no estádio do Palmeiras, porém pelo campeonato de 1923. O Rio Branco só voltaria ao Parque Antártica muito tempo depois, em 1993, para enfrentar o poderoso Palmeiras, que na oportunidade aplicou impiedosos 6 a 1, uma das maiores goleada sofrida pelo Tigre depois que o clube reativou seu futebol, em 1979.

Nesse ano o Campeonato Paulista do Interior não seria disputado, assim como em 1926 e 1927. Começava a derrocada desse time maravilhoso, responsável pelas principais conquistas do clube, mesmo em uma época que o futebol ainda não era profissionalizado: Pisoni; Alfredo Vitta e Fructuoso; Raphael Vitta, Carabina e Ditinho; Braga, Bortolato, Augusto Américo, Paschoal Vitta e Albertino foram os primeiros ídolos do Tigre quase centenário.

1925 - Campeão da Zona, mas com desmanche

O time do Rio Branco era campeão da Zona Paulista (que passou a se chamar 3ª zona). Foi também no “Parque Antártica” que o Tigre deixou escapar o tricampeonato do interior, em 1925, ao ser derrotado pelo Velo Clube. Após aquela decisão, Alfredo e Paschoal Vitta foram para a Pinhalense, Carabina voltou para Limeira, Pisoni e Fructuoso seguiram para o Aliança, de Rebouças, e Tito rumou a Dois Córregos. Era o fim de uma era dourada para o futebol do clube.

Ao lado, vemos o plantel em pose com trajes de passeio.

Por sinal, em uma partida contra o XV de Piracicaba, o Tigre arrebentou seu rival por 6 a 0 em 2 de agosto. A imprensa piracicabana denunciava que o elenco local era composto por profissionais, o que era, digamos, proibido para a época.

Eis as reais profissões da equipe riobranquense em 1925, segundo o jornal “O Município”, de 9 de agosto daquele ano: Pizzoni (alfaite), Carabina (tecelão), Rafael Vitta (viajante), Paschoal Vitta (negociante), Alfredo Vitta (marceneiro), Vergílio Braga (mecânico), Ângelo Ricca (escrivão), Lambary (servente), Frutuozo (negociante) e Albertino (pedreiro).

1926 - O futebol pára por três anos

Desse ano até 1932 o Rio Branco tem um recesso no futebol. Mais futuramente, em 1949, também teria sua última paralisação da historia.

O fantástico esquadrão alvinegro, multicampeão na década de 20, era desmanchado. Raphael Vitta, pilar do meio-de-campo, sofreu um mal súbito em Catanduva em 22 de setembro de 1936, e morreu aos 39 anos. Alberto Machado, o Albertino, ponta esquerda cobiçado por grandes times, faleceu em 12 de novembro de 1930, sempre declarou amor ao Rio Branco. Carabina, tecelão limeirense, morreu em 1962, aos 65 anos, sem poder defender o Paulistano devido à cor da pele. O que viveu mais foi Vergílio Braga, 93 anos, que atuava tanto na meia-direita quanto na ponta-direita, morreu em 1995 em Americana, após 49 anos como funcionário das Indústrias Nardini.

Prova do desmanche daquele esquedrão foi a vexatória derrota para o rival Guarani por 10 a 0 em 7 de novembro, em Campinas, pelo Campeonato Paulista do Interior.

A homenagem do blog ao Rio Branco, aos heróis da década de 20, que jamais pode ser esquecida, aos jornais e jornalistas (especialmente Cláudio Giória, que em sua coluna no Jornal Todo Dia colocou no grande parte desse acervo) e a torcida. A imagem abaixo é dos jogadores que trouxeram para Americana as glórias de todo Estado por uma década de ouro.


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