Década de 20 do Rio Branco Esporte Clube
Na década de 20, o máximo que um clube do interior poderia almejar era
ser campeão paulista do interior. A competição, nesses moldes, foi disputada a
partir de 1919 e ninguém a não ser o Rio Branco Football Club foi campeão duas
vezes nos anos 20, como acompanharemos na sequencia.
As primeiras conquistas do futebol ocorreram em 1921, com os títulos de
campeão da Região e campeão da Zona Paulista, ganhando o direito de disputar o
título de Campeão do Interior com os demais campeões (entenda mais abaixo).
Base: Alfredo Maia; Alfredo Vitta e Augusto Américo; Joaquim Azanha,
José Conegundes e Rafael Vitta; Antonio Machado, Virgilio Braga, Paschoal
Vitta, José Bortolato e Albertino Machado.
Demais: Carabina, Macaco, Eduardo Guedes, João Cibin, Salvador Dias
(Dodô), Mario Oliveira e Julião Justi.
Jogo a jogo:
18/12/21 – Concórdia 1-0 Rio Branco – Campinas
25/12/21 – Rio Branco 2-0 Pirassununguense – Americana
8/01/22 – União Agrícola 0-2 Rio Branco – Santa Bárbara
22/01/22 – Guarany 1-2 Rio Branco – Campinas
29/01 – Guarany 2-5 Rio Branco (Final da Zona Paulista) – Jundiaí
Como campeão da Zona Paulista, o clube prosseguiu na disputa do
Campeonato Paulista do Interior, jogando com campeão de outras zonas (leia a
saga vice-campeã abaixo).
Todos os jogadores trabalhavam até às 17h e seguiam para treinar no Rio
Branco, sendo que, depois do treino, o preparo físico era garantido com uma
corrida pelas ruas da cidade. Nessa época, cada acontecimento envolvendo o
clube mobilizava a cidade, desde um simples amistoso até uma decisão de título.
Outro detalhe é que o “Tigre da Zona” (por causa da região, chamada de
Zona Paulista, depois se adotou o apelido de “Tigre da Paulista”), como era
conhecido por alguns, foi o primeiro bi-campeão do interior, sendo duas vezes
consecutivas. Isso com fundação em 1913, ainda como Sport Club Arromba.
Entendendo: naquela época, os clubes do estado eram divididos em cinco
grupos, determinados por regiões: Capital, Baixa Paulista, Alta Paulista,
Mogiana e Central do Brasil. O Rio Branco pertencia à Baixa Paulista, que junto
com a Alta Paulista, formava a Zona Paulista.
Em 1918 a APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos), resolveu
criar uma nova competição: o Campeonato do Interior. Junto com essa novidade
veio a Taça Competência, ou seja, o campeão do interior disputaria com o
campeão do torneio que já vinha sendo organizado desde 1913 (divisão
principal), o título de Campeão do Estado de São Paulo.
Em 1921, faltou pouco ao RB, mas o campeão da Zona Paulista seria
vice-campeão do fortíssimo Campeonato do Interior, organizado pela APEA.
Jogo a jogo:
24/02/22 – Rio Branco 1-2 XV de Piracicaba – Jundiaí
03/03/22 – Taubaté 1-4 Rio Branco – São Paulo no Campo do Ipiranga
Sem data específica – Rio Branco 2-0 Comercial (Ribeirão Preto) – São
Paulo
19/03/22 – Paulista 1-0 Rio Branco – São Paulo no Campo do Ipiranga
(final)
Rio Branco: Mário; Alfredo e Frutuoso; Rafael, Carabina e Carrinho; José
Rodrigues Junior, Braga, Paschoalino, Augusto e Borolato.
Mesmo sem o título, os atletas eram recebidos com grande banquete em
Americana. Assim o jornalista Claudio Giória resgatou esse momento histórico
para o clube:
O Rio Branco estreou no Campeonato do Interior em 1921 e logo de cara
fez bom papel, chegando ao título da Zona Paulista. Com uma vitória por 2 a 1
sobre o Guarani em 22 de janeiro de 1922, o Rio Branco terminou com o mesmo
número de pontos que o Bugre, o que provocou um jogo desempate, na semana
seguinte, em Jundiaí. A partida foi violentíssima, com os ânimos acirrados, e
terminou com uma goleada de 5 a 2 para o Rio Branco. Embora o título fosse
simbólico, é a primeira conquista da história do futebol do Rio Branco.
Na fase final, o Tigre chegou à última rodada precisando apenas de um
empate diante do Paulista, mas acabou derrotado por 1 a 0, no campo do
Ipiranga, em São Paulo, e viu a taça escapar de suas mãos.
1922 - Campeão do Centenário, o mais importante título da história
Antes de chegar ao Corinthians, o Tigre, então campeão da Zona Paulista,
encarou o Taubaté, campeão da Zona Sorocabana. Vamos à saga:
Jogo a jogo - Campeonato do Interior
Fase regional 1º turno
13/08/22 – Rio Branco 3-1 Guarany – Americana (Paschoal (2) e Augusto
Américo)
03/09/22 – Rio Branco 2-0 São João de Jundiaí – (Paschoal e Augusto)
12/10/22 – Rio Branco 2-1 Paulista de Jundiaí – (Paschoal e Frutuoso)
Fase regional 2º turno
29/10/22 – Rio Branco 2-0 São João de Jundiaí – Jundiaí (Braga e
Frutoso)
Sem data específica – Rio Branco 5-2 Guarany - Jundiaí.
*24/02/23 – Rio Branco 1-3 Paulista de Jundiaí – São Paulo (Frutuoso
marcou para o RB)
*Partida inicialmente prevista para o início do 2º turno em São Paulo,
mas adiada a pedido do Paulista. Lolégio foi o goleiro do Tigre nesse jogo,
porém, devido a sua péssima atuação, foi expulso dos chamados quadros do clube.
Com esse resultado, as duas equipes se igualaram em pontos e decidiram a
final da Zona Baixa da Paulista. Foi uma partida disputadíssima na capital.
04/03/23 – Rio Branco 2-1 Paulista de Jundiaí – (Final) - São Paulo,
Campo do Corinthians (Paschoal e Augusto fizeram os gols do Rio Branco).
Rio Branco: Pisoni; Alfredo e Frutuoso; Carrinho, Carabina e Rafael; Albertino,
Bertolato, Augusto, Paschoal e Braga.
Decisão do titulo absoluto da Zona Paulista
Campeão da Zona Baixa X Zona Alta paulista
11/03/23 – Rio Branco 3–2 Rio Claro – Jundiaí (Augusto (2) e Paschoal)
A arbitragem foi de Antonio Dias e a conquista foi brilhante pelos
riobranquenses.
Incrível o relato feito no Memorial do Rio Claro F.C.: “Em 08/03/1923, o
Rio Claro FC nega-se a enfrentar o Rio Branco FC da Vila Americana, hoje
município de Americana, em Campinas por não ser campo gramado. Essa era uma partida
válida para decidir o título da Zona Paulista do Campeonato do Interior. O jogo
é remarcado para o dia 11.03.1923, em Jundiaí, no campo do Corinthians
Jundiaiense FC. Perdemos por 3x2.”
Campeonato Paulista do Interior
Jogos finais
18/03/1923 – São Joanense, de São João da Boa Vista 0-0 Rio Branco -
Palestra Itália, em São Paulo.
Sem data específica – Rio Branco 2-0 América de São Roque – Palestra
Itália (Augusto e Carabina)
Nesse jogo, Carabina se contundiu logo no início e precisou ser retirado
da partida.
Finalíssima do Campeonato do Interior
Último jogo seria entre Rio Branco, campeão da Zona Paulista, com o
Taubaté, Campeão da Zona Central do Brasil. Foi um inesquecível combate, que
não teve Carabina, ainda contundido. No final, prevaleceu o forte e temido
conjunto do time de Americana, campeão do Centenário da Independência.
08/04/1923 – Rio Branco 2-1 Taubaté – Palestra Itália, em São Paulo
(Braga e Frutuoso para o Tigre)
Rio Branco: Pizoni; Alfredo e Frutuoso; Ditinho, Rafael e Carrinho; Braga,
Paschoal, Herculano, Augusto e Albertino.
Festa com medalhas e homenagens
José da Cunha Raposo, então secretário do Rio Branco F.C. assim
descreveu os festejos realizados:
“Aos 21 dias do mês de abril de 1923, a diretoria do Rio Branco F.C.
seguida dos amigos do Clube, a grande massa popular e a banda de música local,
se dirigiu a estação às 15h30 afim de esperar a comitiva que vinha de São
Paulo, a qual era composta pelo Sr. Manoel Freitas de Pinto Jr. Nosso
representante junto a APEA e portador da Taça Palmeiras; Jarbas Cid de Godói
representando a APEA; Dr. Álvaro Muller; Benedito Cavalcanti representando a
Gazeta de Campinas; Taciano de Oliveira representando a Folha da Noite e o Sr.
Figueiredo Jr. representante do Estado de São Paulo. Ao som da banda musical
‘Euterpe Vilamericanense’, deu entrada na gare o comboio. Aí recebido por esta
diretoria, dirigiram-se todos a esta sede onde lhes foi oferecido um copo de
cerveja. Em seguida, a comitiva, acompanhada dos nossos jogadores e diretoria
seguiram de automóvel para Carioba, onde visitaram a estação de Regatas e a
sede do Clube R. S. Carioba. De volta dessa localidade, percorreram as
principais ruas da cidade. Às 19h realizou-se no hotel Brambilla o banquete
oferecido por esta Diretoria aos jogadores e comitiva. Ao champagne, o prof.
José Cunha Rapozo, brindou os jogadores pelo êxito que alcançaram neste
campeonato e terminou oferecendo-lhes o banquete (...) Assim terminou a festa
promovida em regozijo a conquista de Campeão do Interior do Estado de São Paulo
no ano do 1º Centenário da nossa independência política”.
Final do estado, a “Taça Competência”
Passada a euforia pelo título do Centenário, o Tigre tinha o Corinthians
pela frente para a finalíssima do Estado de São Paulo, no duelo chamado de
“Taça de Competência”. No campo do extinto Palmeiras, em São Paulo, em 3 de
maio de 1923, Corinthians (campeão da Capital) e Rio Branco (campeão do
Interior) decidiam o título máximo paulista. O árbitro foi o Sr. Commodo. O
placar foi amplo para os paulistanos: 5 a 0.
Rio Branco F.C.: Pisoni; Joanin e Frutuoso; Rafael, Alfredo e
Carrinho; Ditinho, Braga, Paschoal, Emilio e Albertino.
Corinthians: Carioca; Del Debio e Rafael; Gelindo, Gambá e Ciasca; Perez, Neco,
Almilcar, Tatu e Rodrigues.
A história da Taça Competência segundo o
rsssfbrasil
1923 - Bi-campeão Paulista
No ano de 1923, o Rio Branco (que foi campeão da Região da Baixa
Paulista) chegou novamente às finais do interior, quando fez um jogo histórico
diante da Francana, no campo do Corinthians. Sob temporal, o time bateu a até
então invicta campeã da Zona Mogiana por 1 a 0, gol de pênalti de Fructuoso, e
colocou a mão na taça, que seria conquistada após um empate sem gols com o
Sorocabano, no dia 10 de fevereiro de 1924.
Assim relatou as festas pelo bi-campeonato o jornalista Claudio
Giória: “A notícia de mais um título para o Tigre fez os torcedores
lotarem o Cinema Central de Vila Americana, palco tradicional de comemorações
na cidade, para cantarem o hino do clube. Com uma bateria de fogos, a torcida
se reuniu para recepcionar os campeões, que haviam acabado de ganhar a taça
Odilon Ferreira. Cinco dias depois, o Rio Branco decidiu confeccionar medalhas
de ouro para os jogadores e começou a arrecadar dinheiro. Na festa pelo título,
gastou-se CR$ 125 em pastéis para os jogadores. Cada diretor do clube foi
convidado a contribuir com CR$ 13.”
Porém, o Tigre perderia o Titulo Paulista da chamada Taça Competência
novamente para o Corinthians, dessa vez de virada e por questionáveis 2 a 1. O
jogo ocorreu em 30 de março de 1924, novamente no “Palestra Itália”.
Quem viveu próximo à época, como o radialista Geraldo Miante, da Rádio
Azul Celeste, lembra dos comentários da ainda Villa Americana e jura que o Rio
Branco foi prejudicado demais pelos árbitros nos dois confrontos contra o
Corinthians em São Paulo. “Meteram a mão no Tigre”, revive.
Equipe bi-campeã do interior em 1923 com apenas
nove anos de fundação. Destaque para Raphael e Alfredo Vitta, que jogaram no
título do “Centenário”.
1924 - Prenúncio de Tristeza
Tigre perde a final da Taça Competência ao ser derrotado, de virada,
pelo Corinthians, por 2 a 1, no estádio do Palmeiras, porém pelo campeonato de
1923. O Rio Branco só voltaria ao Parque Antártica muito tempo depois, em 1993,
para enfrentar o poderoso Palmeiras, que na oportunidade aplicou impiedosos 6 a
1, uma das maiores goleada sofrida pelo Tigre depois que o clube reativou seu
futebol, em 1979.
Nesse ano o Campeonato Paulista do Interior não seria disputado, assim
como em 1926 e 1927. Começava a derrocada desse time maravilhoso, responsável
pelas principais conquistas do clube, mesmo em uma época que o futebol ainda
não era profissionalizado: Pisoni; Alfredo Vitta e Fructuoso; Raphael Vitta,
Carabina e Ditinho; Braga, Bortolato, Augusto Américo, Paschoal Vitta e
Albertino foram os primeiros ídolos do Tigre quase centenário.
1925 - Campeão da Zona, mas com desmanche
O time do Rio Branco era campeão da Zona Paulista (que passou a se
chamar 3ª zona). Foi também no “Parque Antártica” que o Tigre deixou escapar o
tricampeonato do interior, em 1925, ao ser derrotado pelo Velo Clube. Após
aquela decisão, Alfredo e Paschoal Vitta foram para a Pinhalense, Carabina
voltou para Limeira, Pisoni e Fructuoso seguiram para o Aliança, de Rebouças, e
Tito rumou a Dois Córregos. Era o fim de uma era dourada para o futebol do
clube.
Ao lado, vemos o plantel em pose com trajes de passeio.
Por sinal, em uma partida contra o XV de Piracicaba, o Tigre arrebentou
seu rival por 6 a 0 em 2 de agosto. A imprensa piracicabana denunciava que o
elenco local era composto por profissionais, o que era, digamos, proibido para
a época.
Eis as reais profissões da equipe riobranquense em 1925, segundo o
jornal “O Município”, de 9 de agosto daquele ano: Pizzoni (alfaite), Carabina
(tecelão), Rafael Vitta (viajante), Paschoal Vitta (negociante), Alfredo Vitta
(marceneiro), Vergílio Braga (mecânico), Ângelo Ricca (escrivão), Lambary
(servente), Frutuozo (negociante) e Albertino (pedreiro).
1926 - O futebol pára por três anos
Desse ano até 1932 o Rio Branco tem um recesso no futebol. Mais
futuramente, em 1949, também teria sua última paralisação da historia.
O fantástico esquadrão alvinegro, multicampeão na década de 20, era
desmanchado. Raphael Vitta, pilar do meio-de-campo, sofreu um mal súbito em
Catanduva em 22 de setembro de 1936, e morreu aos 39 anos. Alberto Machado, o
Albertino, ponta esquerda cobiçado por grandes times, faleceu em 12 de novembro
de 1930, sempre declarou amor ao Rio Branco. Carabina, tecelão limeirense,
morreu em 1962, aos 65 anos, sem poder defender o Paulistano devido à cor da
pele. O que viveu mais foi Vergílio Braga, 93 anos, que atuava tanto na
meia-direita quanto na ponta-direita, morreu em 1995 em Americana, após 49 anos
como funcionário das Indústrias Nardini.
Prova do desmanche daquele esquedrão foi a vexatória derrota para o
rival Guarani por 10 a 0 em 7 de novembro, em Campinas, pelo Campeonato
Paulista do Interior.
A homenagem do blog ao Rio Branco, aos heróis da década de 20, que
jamais pode ser esquecida, aos jornais e jornalistas (especialmente Cláudio
Giória, que em sua coluna no Jornal Todo Dia colocou no grande parte desse
acervo) e a torcida. A imagem abaixo é dos jogadores que trouxeram
para Americana as glórias de todo Estado por uma década de ouro.
0 comments: